Diocese de Santo André

Homilia de abertura do Sínodo Diocesano

Neste penúltimo domingo do ano litúrgico nos é apresentada pela liturgia da Palavra, a realidade conflitiva na qual vivemos. Nossa condição humana é conflitiva e turbulenta. Porém a Palavra de Deus nos alerta que a perspectiva do fim, em meio aos dramas da história, nos deve servir de incentivo à firmeza na profissão de nossa fé. Fé no amor misericordioso de Deus que celebramos neste Ano Santo da Misericórdia que se encerra hoje.

A primeira leitura nos fala da espera pelo julgamento que Deus fará, Ele é o sol da justiça, que fará derreter toda injustiça e maldade como o gelo. Jesus no Evangelho, numa linguagem apocalíptica descreve os dramas da história que caminha para sua consumação. Ele mostra que as catástrofes são julgamentos de Deus ao longo da história humana, mas não são o fim que somente Deus sabe quando será. São muitas as aflições do tempo presente, mas o cristão deve permanecer firme na fé e trabalhando pelo Reino de Deus.

Tudo passa e o momento do fim da história somente Deus sabe. Jesus nos adverte: “não entreis em pânico”. Nem com a passagem do ano 2000 nem com a queda das torres gêmeas em NY o mundo acabou, e as crises se sucedem. Estamos ameaçados por muitos perigos nos dias de hoje, desde guerras até a poluição ambiental. Mas só Deus sabe o momento do fim. Vivemos sempre momentos provisórios que mudam constantemente, mas é neste provisório que preparamos o definitivo, através de nossa fé que age pela caridade.

Somente não passa o que Jesus ensina, sua Palavra cheia de sabedoria e vida. Em meio aos dramas da história e da vida pessoal, o cristão deve ver um desafio para permanecer firme na fé. Devemos vencer a tentação de se retirar para um mundo individualista e de fé pessoal, votada somente para nosso interior ou para pequenos grupos fechados. A fuga da realidade não é ensinada por Jesus! São Paulo nos adverte do perigo de cruzar os braços, ao mesmo tempo em que nos incentiva a trabalhar pela causa do Reino.

A Palavra de Deus nos convida também a vencer a tentação de querer ver acontecer o Reino de Deus já consumado aqui na Terra. Vencer a tentação da idolatria do dinheiro, da tecnologia, do materialismo e consumismo. É preciso acreditar sempre na supremacia de Deus, somente Deus é o Senhor da história e a dirige misteriosamente para seu fim. É preciso ter paciência. Falamos pouco de paciência, mas precisamos dela para construirmos o Reino de Deus que já está presente, mas ainda não definitivamente. Paciência e perseverança se equivalem.

 O “discurso escatológico” de Jesus é um chamado a perseverar na fé. Não correr atrás de novidades ou líderes aventureiros ou falsos profetas. Jesus nos convida, diante das situações difíceis e das incertezas da vida, a termos uma atitude oposta ao desânimo, ao medo e à infidelidade. Diante das turbulências do dia a dia, Deus nos dará a força do Espírito Santo a fim de podermos discernir e resistir a tudo que é mal. Não seguir os que nos separam da fé em Jesus Cristo e da sua Igreja.

Jesus faz-nos uma promessa: quem perseverar até o fim será salvo: “Nem um único fio de cabelo de vossa cabeça se perderá: por vossa perseverança salvareis vossas vidas”.  A perseverança cristã não consiste em não desanimar, em não duvidar, em não falhar ou vacilar… A perseverança cristã consiste em recomeçar a cada dia, depois de cada crise, depois de cada queda, apesar das traições e perseguições. A chave da salvação não está em um caminho fácil, mas na perseverança. Jesus nos convida a perseverar, ao mesmo tempo nos dá esperança e nós sabemos que a esperança não decepciona.

Em meio às crises, perseverar trabalhando pelo Reino de Deus, ou seja, concentrar-se no essencial! Assim resumiria a reflexão que nos é proposta hoje. Somos convidados a viver em tempos de crise social e religiosa, com lucidez e responsabilidade, sem demonizar as crises nem submergir no desânimo ou desespero. Sabemos que a fé cristã não pode ser transmitida a partir do comodismo ou de atitudes negativas.

Nenhuma crise ou dificuldade pode impedir que Deus continue em Jesus Cristo, através de sua Igreja, comunicando-se e oferecendo a salvação. É preciso perseverar e perseverar não é colocar-se na defensiva, mas manter a capacidade de escutar a ação de Deus em nossos Dias. Perguntar o que Deus deseja de nós como Igreja e entrarmos na dinâmica de uma conversão contínua. Como a missão da Igreja é Evangelizar, necessitamos de uma contínua “conversão pastoral”, para sermos Igreja de discípulos-missionários co-responsáveis e participativos na vida das comunidades (cf. ADp 368).

É neste espírito que o Evangelho hoje nos indica, que desejamos realizar em nossa Igreja Particular de Santo André um Sínodo Diocesano, para o qual convoco todas as forças vivas de nossa Diocese. Neste momento peço vênia para ler o decreto de convocação: (leitura do decreto).

Jesus disse: “Procurai primeiro o Reino de Deus e sua justiça e todas as coisas vos serão dadas por acréscimo”(Mt 6,33). Que através deste Sínodo possamos caminhar juntos como Igreja em comunhão missionária e animados pela certeza de que Jesus está conosco, caminha conosco e garante nossa missão. Creio que a Igreja de Santo André, de passado glorioso e laborioso, poderá contar com o entusiasmo de todos os que a amam de verdade para que encontremos o caminho certo de atuação em nossa realidade que está sofrendo um processo acentuado de transformação em todos os sentidos e níveis. Nossa Diocese conta com a colaboração generosa e sincera de cada um. Chegou a hora de retribuir a nossa Igreja diocesano o muito que ela nos oferece todos os dias. Quem é batizado não pode separar o amor de Cristo do amor à Igreja e este amor exige de nós sacrifícios: quem na Eucaristia toma o corpo e sangue de Cristo, deve ser capaz também de dar seu corpo e sangue por Ele e por sua Igreja!

Para o êxito deste Sínodo peço que durante o período de sua realização seja rezada a oração pelo Sínodo Diocesano em nossas celebrações e que o Espírito Santo seja continuamente invocado.

Sem o Espírito Santo Deus fica distante; Cristo permanece no passado; o Evangelho é letra morta; a Igreja uma simples organização; a autoridade: um domínio; a missão é propaganda; o culto, uma simples recordação e a prática cristã uma moral de escravos. Mas no Espírito Santo, o Cosmo é elevado e geme em dores de parto do Reino; o homem luta contra a carne. Então: Jesus ressuscitado está aqui; o Evangelho é potência de vida; a Igreja significa comunhão trinitária; a autoridade é um serviço libertador; a missão um Pentecostes; a liturgia é memorial e antecipação e a ação humana é divinizada” (Patriarca de Antioquia, Ignacios Hazin em Hupsala – 1968).

Que assim Deus que nos inspirou esta ação nos ajude a realiza-la pela intercessão de Maria Santíssima, mãe da Igreja. AMEM!

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