Diocese de Santo André

COMIDI alerta sobre a necessidade da vacinação para os povos indígenas em área urbana

A vacinação contra a Covid-19 teve início no dia 19 de janeiro em todo o Grande ABC. E juntamente com os profissionais da linha de frente (área da saúde), idosos em instituições de longa permanência e comunidades quilombolas, os indígenas estão entre os grupos prioritários a receber as primeiras doses.

O COMIDI (Conselho Missionário Diocesano) da Diocese de Santo André alerta sobre a necessidade de que as vacinas também cheguem aos povos indígenas que vivem nas áreas urbanas das sete cidades da região.

De acordo com informações da Prefeitura de São Bernardo do Campo, o primeiro indígena a receber a vacina foi Edson Martins dos Santos, 24 anos, morador da aldeia Guyrapa-ju, na região do pós-balsa. Assim como ele, todos os cerca de 100 indígenas com idade superior a 18 anos residentes nas duas aldeias localizadas em São Bernardo – há ainda a Brilho do Sol-Kuaray Rexaká – serão imunizados. “A gente tinha uma expectativa grande de que essa vacina chegasse na aldeia. Tinha muito medo de perder alguém da família para essa doença. Estamos muito felizes“, ressalta Santos.

Coordenador do COMIDI (Conselho Missionário Diocesano), Marcos Aguiar, e do Programa Índios na Cidade, da ONG Opção Brasil, considera que as vacinas são importantes para frear a propagação do vírus, principalmente entre aqueles grupos que têm a cultura de compartilharem objetos. Segundo ele, pesquisas do Instituto Butantan e da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) atestaram uma letalidade maior entre os povos indígenas, principalmente entre os que migraram para a área urbana.

“Ficou comprovado que os indígenas têm desafios maiores com questões respiratórias, especialmente da Covid, principalmente aqueles com traços culturais de serem muito coletivos, de partilharem objetos, troca de alimentos e artesanatos, reuniões em que se utiliza a mesma bomba de chimarrão que circula entre os grupos. Então, isso causa um processo de transmissão muito mais rápido”, avalia.

Na semana passada, a região recebeu 39 mil doses da CoronaVac. Nesta terça (26), o Grande ABC receberá cerca de 30 mil doses da Oxford/ AstraZeneca para prosseguir a vacinação dos grupos prioritários.

A realidade indígena no ABC

Marcos destaca a relevância da vacinação para os amigos que já foram imunizados das aldeias Guyrapa-ju e Brilho do Sol-Kuaray Rexaká na região do pós-balsa, mas reitera que a campanha precisa chegar aos povos das 41 etnias existentes no Grande ABC, segundo levantamento do Programa Índios no ABC, da ONG Opção Brasil e Rede de Articulação Nacional de Indígenas em Contextos Urbanos e Migrantes (atualizado em junho de 2020).

O último censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) realizado em 2010 apontou cerca de 2 mil indígenas no Grande ABC. No entanto, Marcos acredita que atualmente esse número seja quatro vezes maior, girando em torno de 8 mil (Naquele ano, o país tinha 896.917 indígenas. Marcos projetou 1,5 milhão de indígenas em 2020).

Leia a matéria aqui.

“Existem milhares de indígenas que moram no ABC e são invisíveis aos nossos olhos. São grupos em área urbana que vivem fora das aldeias que não foram vacinados até o nosso conhecimento. E isso tem sido repetido em muitos momentos. O que nos preocupa muito, até porque o governo federal colocou a vacinação para os grupos aldeados, excluindo os que estão em área urbana, inclusive indo contra a constituição nos artigos 231 e 232, que colocam a questão da autodeterminação indígena em qualquer lugar”, salienta.

Trabalho iniciado há um ano em parceria com o Vicariato Episcopal para a Caridade Social, o Movimento Indígena Diocesano tem como objetivo mapear os índios que participam das comunidades católicas nas sete cidades. Das 106 paróquias localizadas no Grande ABC, cerca de 40 contam com frequência regular de indígenas.

Resolução exclui indígenas que vivem em áreas urbanas

O coordenador do COMIDI considera um retrocesso as novas regras definidas pela Funai (Fundação Nacional do Índio), por meio da Resolução N° 4 de janeiro de 2021, que torna mais rígido o processo de reconhecimento de etnia dos indígenas, uma vez que será necessário comprovar o vínculo cultural, histórico e tradicional de ocupação ou habitação da etnia declarada a alguma aldeia. Sendo assim, os indígenas que residem em área urbana estariam excluídos das políticas públicas, inclusive do Plano Nacional de Imunização.

“Essa resolução (que entra em vigor no dia 1º de fevereiro) procura delimitar a identificação étnica dos grupos indígenas, excluindo totalmente os indígenas que vivem fora das aldeias ou mesmo os que nasceram fora delas. Essa decisão exclui esses grupos (de serem beneficiários) das políticas públicas”, critica.

Inclusive, Marcos recorda que já foi colocado e denunciado pelo CIMI (Conselho Indigenista Missionário), organismo vinculado à CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), em 2002, na época da Campanha da Fraternidade, quando reiterou que os povos indígenas que vivem na área urbana, dentre todos os grupos minoritários, os que menos têm acesso às políticas públicas. O CIMI publicou uma nota no dia 18 de janeiro de 2021 sobre a exclusão dos indígenas do plano de vacinação no país: https://bit.ly/39Y7m0Q 

Repúdio ao racismo e preconceito

Marcos afirma que o COMIDI repudia as manifestações de preconceito e de cunho racista contra os indígenas que foram vacinados no meio urbano em diversas cidades. Eles foram vítimas de ataques pelas redes sociais.

“Temos acompanhando diversos relatos envolvendo as enfermeiras indígenas Vanda Ortega (etnia Witoto), de Manaus (AM), e Vanusa Costa Santos (etnia Kaimbé), em Guarulhos (SP); dos índios da aldeia Maracanã, no Rio (RJ); frases preconceituosas e até racistas contra eles nas redes sociais, dizendo que não são indígenas. Só pelo fato de usarem roupa e celular deixaram de ser indígenas, sendo que nós sabemos que indígena é indígena em qualquer lugar e independente do que ele está usando”, comenta.

* Nota: a foto em destaque foi feita antes da pandemia

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