O Papa Leão XIV publicou dia 09/10/2025 sua primeira Exortação Apostólica que, em latim, tem o título Dilexi te (Eu te amei) extraído de Apocalipse cap. 3, 9. Dedicada ao amor do cristão para com os pobres. É composta de uma introdução e cinco capítulos; o último deles faz às vezes de conclusão, e o resumimos a seguir.
Durante o Concílio Vaticano II (1962-1965) o papa João XXIII declarou que a Igreja quer ser a “Igreja de todos e particularmente Igreja dos pobres”. O papa Paulo VI endossou essa visão, afirmando que a Igreja olha para os sofredores, pois eles lhe pertencem “por direito evangélico”. São imagem de Cristo. João Paulo II consolidou a opção pelos pobres como “forma especial de primado na prática da caridade cristã”, alertando contra o risco de sermos como o “rico epulão” que ignora Lázaro (Lc 16, 20-31).
O Papa Francisco denuncia a “ditadura de uma economia que mata”, promovendo a desigualdade e a alienação social, fazendo parecer normal a indiferença para com o próximo necessitado. Ele critica a autonomia absoluta dos mercados e a especulação financeira que impõe uma “nova tirania invisível”. Dizia que precisa resolver as causas estruturais da pobreza com urgência, pois a falta de justiça é a “raiz dos males sociais”.
Também o Episcopado Latino-Americano (Conferências de Medellín, Puebla e Aparecida) deu um impulso fundamental, qualificando as estruturas de injustiça como “pecado social” e defendendo uma opção franca e profética pelos pobres.
Este documento, conclui a reflexão sobre a opção pelos pobres destacando que essa atenção é um elemento essencial e ininterrupto da Tradição da Igreja, sendo a garantia evangélica de sua fidelidade a Deus. Para o cristão, o pobre não pode ser visto como problema social, são figura de Cristo sofredor (cf. Mt. 25).
A cultura atual incentiva a indiferença, mas para os seus seguidores Jesus conta a parábola do Bom Samaritano… (“Vai e faz tu também o mesmo” – Lc 10,37). Ao ver um pobre, o reconhecemos como um ser humano, com a mesma dignidade que a nossa, uma imagem de Deus, um irmão redimido por Cristo. Ignorar o sofrimento do outro é sintoma de uma sociedade enferma.
Para os cristãos, os pobres não são categoria sociológica, mas a própria carne de Cristo – uma carne que tem fome, sede, está doente e na prisão. O coração da Igreja é, por natureza, solidário com os “descartáveis” da sociedade. A falta de compromisso com o bem comum, a defesa e a promoção dos mais fracos é uma grave incoerência com a fé cristã.
A esmola, muitas vezes desprezada, é reafirmada como um momento necessário de contato, encontro e identificação com a condição do necessitado. Embora o auxílio mais importante seja um bom trabalho (que dá dignidade à pessoa), a esmola também é vital para garantir o indispensável para viver dignamente. Todavia, a esmola não isenta as autoridades de suas responsabilidades, mas convida o fiel a parar, olhar nos olhos do pobre, tocá-lo e partilhar. O amor e as convicções precisam ser alimentados por gestos pessoais, frequentes e sinceros. Tocar a carne sofredora dos pobres é essencial, mesmo que não seja a solução para a pobreza global: nos torna mais humanos!
O amor cristão é profético, supera barreiras e não tem limites. Uma Igreja que não coloca limites ao amor, mas acolhe a todos, é a Igreja de que o mundo precisa. Enfim, “quer através do vosso trabalho, quer através do vosso empenho em mudar as estruturas sociais injustas, quer através daquele gesto de ajuda simples, muito pessoal e próximo, será possível que o pobre sinta serem para ele as palavras de Jesus: ‘Eu te amei’ (Ap 3,9)”.
Eis, em poucas palavras, a conclusão da Exortação Apostólica Dilexi te, do Papa Leão XIV.
+Dom Pedro Carlos Cipollini
Bispo de Santo André