Texto e Fotos: PASCOM Região Utinga
O Setor Utinga da Diocese de Santo André viveu uma experiência edificante no início deste mês. Entre os dias 02 e 04 de maio (terça a quinta), aconteceu sua primeira Formação Regional, que reuniu os agentes pastorais das 11 paróquias da região no Santuário Senhor do Bonfim. Com início às 20h, as três noites foram ministradas pelo padre Jean Rafael Eugênio Barros, da paróquia Nossa Senhora de Fátima (Região Pastoral Santo André – Centro), que levou até os presentes os principais ensinamentos do Evangelii Gaudium – Evangelho da Alegria! –, documento escrito pelo Papa Francisco sobre o anúncio do Evangelho com alegria, misericórdia, fé e disposição.
O primeiro dia desta Formação Regional abordou a responsabilidade de uma ação transformadora missionária; trabalhou-se a temática do Evangelii Gaudium na realização de que “o verbo se fez carne e habitou entre nós” [ref. Jo 1, 14]. O segundo dia “colocou o dedo na ferida” – nas palavras do padre Jean – e refletiu sobre a proposta de uma vida nova: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vai ao Pai senão por mim” [ref. Jo 14, 6]. Por fim, o terceiro e último dia tratou o quesito da responsabilidade do anúncio, dada por Jesus para todos os batizados: “Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi e vos designei para irdes e para que produzais fruto” [ref. Jo 15, 12-16].
Padre Jean também relacionou o Evangelho da Alegria ao Sínodo Diocesano: “Observando este ano sinodal em nossa querida Diocese de Santo André, nós queremos reavivar a chama do projeto de Deus que veio estabelecer morada em nosso meio; queremos reacordar a nossa atitude batismal, queremos refazer em nós o projeto de Deus, tornando-o viável para nós e para aqueles com quem nós convivemos no dia a dia. Sínodo: a sinodalidade, o caminhar juntos, acertar os mesmos passos, querer que a Igreja tenha um olhar, um foco único para estabelecer a mudança em nosso coração. Não que antes estivesse ruim, mas podemos melhorar cada vez mais”.
Veja as principais falas do presbítero durante os três dias de formação:
PRIMEIRO DIA (02/05)
[LINKAR: https://diocesesa.org.br/2017/05/03/formacao-regional-sobre-evangelii-gaudium/]
“‘O Verbo se fez carne e habitou entre nós’ (Jo 1, 14). Deus QUIS fazer morada em nosso meio. Às vezes, a nossa cabeça não consegue compreender a grandeza deste mistério na pequeneza do gesto. O criador tornou-se criatura; e, como criatura, levou a dignidade de nossa natureza humana ao Seu projeto divino.A grandeza de Deus, na pequeneza da natureza humana, assume a responsabilidade para Ele”.
“Jorge Mario Bergoglio foi eleito Papa em 13 de março de 2013, momento de crise moral e política na Cúria Romana. Nesse cenário, vindo das periferias do mundo, na Argentina, ele vai estabelecer seu projeto, não pessoal, mas de Nosso Senhor Jesus Cristo: ‘vai e reconstrói a minha Igreja’. É esta coragem de poder agir no mundo e estabelecer a diferença – não ser indiferente – que favorece o projeto de Nosso Senhor Jesus Cristo na vida de todos nós”.
“Cuidado com o desânimo, com o egoísmo, com a ideia de servir a Deus por alguns privilégios. Às vezes, corremos o risco de ir à igreja pelas pessoas, e as pessoas podem nos decepcionar. Mas temos que recordar qual foi a experiência que nos fez perceber que vale a pena ser cristão e católico”.
“Às vezes a gente faz, faz, faz e, mesmo assim, somos criticados; às vezes a gente faz, faz, faz e, mesmo assim, vêm os problemas. Cristo também não fez, fez, fez? E, ainda assim, morreu na cruz por nós”.
“Sacrifício: sagrado ofício. É a capacidade de entender a superação das próprias misérias e problemas, das dificuldades e inconsistências, dos obstáculos e espinhos, para podermos dizer que vamos permanecer firmes e fortes até o fim, mesmo que isso nos leve à cruz. E aí está o desafio para nós”.
“É muito importante observarmos nossa atitude missionária, reacordando este projeto de Deus na vida de todos nós, percebendo que a Igreja deve chegar aos afastados e excluídos”.
“‘Sentir o cheiro de ovelha’, uma frase que ficou forte dentro em nós na atitude do Papa Francisco. O que significa esta realidade do ‘sentir cheiro de ovelha’? É observar a atitude do Cristo que ia ao encontro daquele e daquela que sempre necessitava. Ele estava à margem. Ele convivia com aqueles que não tinham a oportunidade de ser alguém na vida”.
“O nosso jeito de abordar, de aproximar, de dizer, de estabelecer, de se apresentar pode ser um modo de evangelização, um modo de ser missionário”.
“Recusemos o ‘sempre foi assim’. Devemos estar abertos ao novo, à mudança, à proposta de uma nova caminhada”.
SEGUNDO DIA (03/05)
[LINKAR: https://diocesesa.org.br/2017/05/04/encontro-estuda-os-documentos-da-igreja/]
“Não é prudente falar mais da lei do que da graça, mais da Igreja do que de Jesus Cristo, mais do Papa do que da Palavra de Deus. Nesta vertente do Projeto de Deus, do estabelecimento de vida nova como sinal desta graça de Deus para nós, é prudente falar da graça, em Jesus, pois a Palavra é para nós um sinal de vida. Aí compreendemos a responsabilidade: a graça, gerada em Jesus como a Palavra encarnada”.
“Como anunciar a Palavra de Deus? Aquele que vai proferir a realidade da explicação do Evangelho tem que ter esta compreensão da dinâmica da espiritualidade, da oração. Tem que estabelecer o vínculo com a sociedade – o social. E vai estabelecer a participação da vida de comunidade”.
“Quando estamos com o coração aberto, com o pensamento aberto, receptivos à Palavra de Deus, esta mesma Palavra torna-se, para nós, como uma faca de dois gumes: cortante e penetrante. Provoca uma ferida dentro em nós, no sentido de que abre o nosso coração para que ele possa ser transformado. Não é no sentido de violência, mas no sentido de provocação, que gera uma transformação para nós. Este é o contexto: transformação missionária da Igreja”.
“Desobediência é fechar a audição àquilo que Deus disse; desobedecer é não ouvir com profundidade, porque se eu não ouço com profundidade, eu não faço o que o outro me pediu”.
“Por que o Batismo é o primeiro dos sacramentos? Porque ele é a porta para todos os outros. Porque é nele, com ele e a partir dele que nós vamos compreender que pertencemos ao projeto de Nosso Senhor Jesus Cristo. O Batismo é a porta de entrada porque ele estabelece esse sinal da Graça de Deus sobre a vida de todos nós, o sinal de nossa total pertença a Deus”.
“Nesta trajetória da transformação missionária da Igreja, nós queremos entender que, frente à pregação, está a atitude daquilo que eu escuto para merecer a salvação, e é o Batismo que vai trazer esta oportunidade, para mim, de poder pertencer inteiramente a Deus”.
“Francisco vai dizer que prefere uma Igreja que esteja verdadeiramente ‘enlameada’, acidentada por ter saído às estradas, do que uma Igreja fechada, distante. Que prefere uma Igreja onde possam apontar seus defeitos e erros, mas uma Igreja que está fazendo, do que uma Igreja que se tornou puritana, sem compromisso. Aquilo que ele propõe é o que Jesus Cristo já propunha desde o princípio: ‘Eu vim para que todos tenham vida, e a tenham em abundância’ (Jo 10, 10b)”.
“Quando você recebe o Batismo, você é chamado de ‘cristão’. ‘Cristo’ não é o sobrenome de Jesus,’Cristo’ significa ‘ungido’. Cristão, cristã: ungido, ungida. Somos ungidos do Senhor! Falar com unção, ser ungido, é deixar que a ação de Deus transforme a todos nós.Quando aprendemos a recuperar nossa identidade de cristãos, de ungidos, aprendemos a servir melhor”.
“Quando despertamos o valor e a dignidade da natureza humana, nós valorizamos o ser humano, valorizamos a pessoa. E quando aprendemos a valorizar a pessoa, nós estabelecemos que o projeto de Jesus gera a igualdade e não a desigualdade. Não é pura e simplesmente a circunstância de uma vida, mas eliminar a exclusão e a desigualdade, gerando valor e dignidade à natureza humana”.
“Francisco, o Papa, coloca o dedo na ferida, e isso dói. Porque, em maior ou menor escala, ele convoca uma atitude de consciência a todo aquele que se denomina cristão, seguidor ou seguidora de Jesus Cristo”.
“Viver em comum unidade – comunidade – é estabelecer um procedimento para o crescimento de todos, e não para o privilégio de alguns”.
TERCEIRO DIA (04/05)
[LINKAR: https://diocesesa.org.br/2017/05/08/encerrada-a-1a-formacao-regional-do-setor-utinga/]
“É muito importante olharmos a compreensão do capítulo 15 do Evangelho de São João, dos versículos 12 a 16: ‘Não fostes vós que me escolhestes, fui eu que vos escolhi e vos designei para irdes e para que produzais fruto’. Qual é o fruto que nós queremos produzir?”.
“Ao compreendermos um pouco nossa responsabilidade na Igreja, vamos dizer que a evangelização é uma tarefa para todo o povo de Deus. Ninguém está excluído, todos os batizados estão diretamente envolvidos nela. Porque a natureza da Igreja produz esta realidade evangelizadora”.
“A Palavra de Deus é uma Palavra que deve provocar uma libertação na natureza humana”.
“Eu sou Igreja. Você é Igreja. A Evangelização faz parte de nós. Nós somos Igreja e, ao sermos Igreja, ao produzirmos o amor de Deus, os frutos se tornam necessários”.
“Às vezes, na comunidade, nós vamos nos envolvendo, temos confiança, temos coragem. Mas sentindo o frescor da missão da evangelização, titubeamos, começamos a afundar. ‘Não sejas assim, incrédulo, mas fiel’ (ref. Mt 14, 28-32). É essa a responsabilidade da fé”.
“Provocar a evangelização é um modo bonito de poder ensinar a outros”.
“Ser. Conviver. Fazer. Aprender. Aprender a ser está relacionado à identidade: aprender a ser cristão convicto. Aprender a conviver é ser inserido ao mundo: a convivência provoca em nós o sair de si e estar com o outro. Fazer opções nos leva a aprender que eu vou me encontrar com renúncias, com martírio, com a cruz, com obstáculos, mas eu vou viver a responsabilidade de uma vida em Deus. E, naturalmente, quando eu sou, convivo e faço opções, eu vou aprendendo a cada dia – aprender a aprender – e desenvolvo a capacidade de deixar a auto-suficiência de lado, de abrir o pensamento e o coração para dizer que quero aprender sempre, para a vida”.
“O projeto de Jesus Cristo é um projeto apaixonante para todos nós. Nesta responsabilidade, queremos compreender que um gesto e o poder da palavra deve fazer um efeito que provoca uma mudança, uma transformação”.
“A simplicidade tem a ver com a linguagem utilizada: quanto mais simples pudermos ser, mais a palavra pode atingir. Por que este homem, denominado Francisco, tem arrastado muita gente em sua fala – católicos e não católicos? Por seus exemplos. O que há de diferente nele? O gesto da simplicidade. Quanto mais necessidade de nos inflar, menos produzimos”.
“Pense num botão de rosa. Com espinhos. Dependendo do jeito que o pegamos, ele pode machucar a nossa mão. Se o apertarmos, os espinhos vão nos ferir. Mas se olharmos para ele com delicadeza, com ternura, com amor, os espinhos podem ser suportes em nossos dedos para o botão de rosa não escorregar. E os espinhos da vida de todos nós, se olhados com ternura, com amor, não nos machucam, mas trazem crescimento e revelam sua beleza”.
“Pense em um vaso de barro. O que é mais importante no vaso? O mais importante é o vazio do vaso! Porque é nele que Deus pode preencher”.
“Não é minha ‘hiperatividade’ na vida da comunidade que vai qualificar uma boa paróquia, uma boa pastoral, um bom movimento, um bom ministério. Mas é, de fato, o deixar-se Deus perfazer-se em nós, deixar Deus nos conduzir”.
“Esta é a responsabilidade: é perceber o sofrimento de um povo, é erradicar esta realidade, é proporcionar a totalidade da salvação na pessoa – salvar a pessoa na sua totalidade. Sua atuação será sempre profética quando seu compromisso com os mais desprotegidos da sociedade não se atrelar aos poderes deste mundo. Veja que essa dimensão da evangelização provoca uma situação de partilha: melhorar o mundo – a escola, o trabalho, a política. Ai de mim se eu não evangelizar!”.
“Às vezes, pensamos que pobreza é só falta de dinheiro. E quantos de nós somos pobres porque não sabemos perdoar? Somos pobres porque somos carentes e necessitamos de amor? Somos pobres porque agimos no egoísmo, no ciúme, na auto-suficiência? Pobreza está em todos os cantos, não é só necessidade financeira”.
“Eu valho o preço do sangue de um Deus. Veja que valor nós temos na evangelização, em Jesus!”