Estamos chegando ao final deste Ano Santo da Misericórdia, convocado pelo Papa Francisco cujo tema é: “Misericordiosos como o Pai” (Lc 6,36). O mundo precisa de misericórdia. Misericórdia é o ato último e supremo pelo qual Deus vem ao nosso encontro. É a lei fundamental que mora no coração do ser humano, quando vê com olhos sinceros o irmão que encontra no caminho da vida.
A misericórdia é um sentimento de amor profundo com as pessoas e a criação, sentimento que leva a acolher, dar perdão e promover a vida. Diante da miséria alheia, a misericórdia responde com um amor infinito, que compreende e resgata. Mas a misericórdia não é uma realidade distinta da justiça. A coroa da justiça é a misericórdia. Justiça sem misericórdia vira vingança. A justiça de Deus quer resgatar e recuperar através do perdão e da correção.
A Igreja na sua sabedoria milenar prescreve as obras de misericórdia que são expressão concreta da prática da misericórdia. Elas se dividem em obras de misericórdia corporais: dar de comer a quem tem fome, dar de beber, vestir os nus, acolher os peregrinos, visitar os doentes, visitar os encarcerados e sepultar os mortos. As obras de misericórdia espirituais são: aconselhar os que estão em dúvidas, ensinar os ignorantes, advertir os pecadores, perdoar as ofensas, suportar as fraquezas do próximo, orar pelos vivos e mortos e consolar os aflitos. Desde seu início a Igreja exerce através de seus membros estas obras de misericórdia que são faróis a iluminar a humanidade.
São tantos os exemplos da caridade organizada como misericórdia que é difícil escolher. Lembro-me aqui, da Cidade dos Meninos, existente em Santo André. Uma instituição filantrópica sem fins lucrativos, mantida pela Associação Missionária dos Franciscanos Menores Conventuais, considerada de utilidade pública. Ela surgiu na periferia de Santo André num bairro à época extremamente pobre. Sua missão é acolher crianças e adolescentes de baixa renda, em período integral, dando formação e educando para a cidadania. Acolher pessoas carentes ou com deficiências dando-lhes possibilidade de recuperação.
A Cidade dos Meninos é um lugar preferencialmente dos mais pobres. O trabalho de promoção é realizado simultaneamente com as famílias e a comunidade visando a construção de uma sociedade nova onde ninguém seja excluído. A creche ali existente atende 300 crianças de baixa renda. O Centro da Juventude atende 150 crianças e adolescentes de seis a quinze anos em situação de risco, ou seja, expostos a perigo de viver na rua. E tem ainda a Casa Aberta, com capacidade para 75 adolescentes que tem acesso a oficinas profissionalizantes. Conta ainda com o Centro de reabilitação e Equoterapia e o Programa de Convivência e aprendizado no Trabalho, também para adolescentes das classes populares.
Tive contato com a Cidade dos Meninos, durante minha recente Visita Pastoral Missionária no Bairro Novo Oratório, na Região de Utinga em Santo André. Ali fui recebido pelo diretor da obra, Frei Luiz Favaron e por todas as crianças do período da manhã. Vivi uma experiência única de experimentar o quanto a Igreja Católica, através dos freis franciscanos, em parceria com outras forças vivas da sociedade, podem promover o ser humano.
Em tudo se percebe o sentimento inspirador que é a caridade, o amor misericordioso de Deus que resgata e ampara e da vida. Um verdadeiro convite a sermos misericordiosos como o Pai do Céu.
Artigo escrito por Dom Pedro Carlos Cipollini para o Jornal Diário do Grande ABC