Estamos mergulhados em uma crise que nos preocupa. Pode ficar pior se perdermos a esperança. Ela é o único bem comum a todos os homens, até os que já nada possuem a podem possuir ainda.
Estamos iniciando um novo ano e é preciso renovar nossa esperança. Sem dúvida existe um pessimismo generalizado e muitos adotam o ditado: “deseje o melhor, mas se prepare para o pior”. No entanto, são os otimistas, os que tem esperança, que fazem avançar a história. Onde os pessimistas veem dificuldades, os esperançosos, vem oportunidades. Tanto a esperança como o otimismo brotam da fé em Deus e no ser humano.
A esperança não decepciona diz a Sagrada Escritura (Rm 5,5), ela é fonte de bom humor e valorização da vida. Esta força interior propulsora se fundamenta para o cristão na mensagem de Jesus, o Filho de Deus que celebramos no Natal, nascendo em Belém. Ele nos garante que a última palavra é da vida e não da morte.
Por detrás da crise que nos atinge e que é uma crise política, econômica e social, está outra mais profunda, provocada pela falta de esperança. Isto reflete-se na incapacidade de lidar com situações nas quais a vida está fragilizada. Sem esperança o que acaba dando segurança é o dinheiro. A ganância e a corrupção demonstram uma falta de esperança total. A avareza é consequência do desespero.
O avanço formidável da tecnologia, da medicina e outras áreas do saber não se fez acompanhar do avanço da valorização da vida. Colocam-se assim graves questionamentos éticos à sociedade. Precisamos de esperança para que a Terra seja mais habitável. Ela nos ajuda a reconhecer as contradições da vida e a superar a tentação de priorizar o egoísmo, o qual valoriza mais o ter que o ser.
As bem-aventuranças ensinadas por Jesus são um caminho para viver a esperança e o bom humor em meio às contradições e dramas da vida. Foi isto que viveu intensamente o Cardeal Paulo Evaristo Arns que há pouco nos deixou. Com seu lema de vida: “de esperança em esperança”, soube como ninguém infundir esperança nas pessoas que o rodeavam. Ele compreendeu o que escreveu o grande pensador inglês G. K. Chesterton: “Somente quando de tudo desesperamos é que a esperança começa a ser verdadeira força”.
A esperança do cristão, não brota da alienação, mas da fé na ressurreição de Jesus Cristo, a qual constitui-se em espírito de insurreição diante daqueles que fazem aliança com a morte. A esperança é a ultima que morre, diz o ditado, e é verdade porque ela somente morrerá, quando as promessas de Deus forem cumpridas.
Aos leigos cristãos católicos que lerem estas linhas, gostaria de recordar o que ensinou o Concílio Vaticano II sobre a esperança: “Os leigos mostrar-se-ão filhos da promessa se, firmes na fé e na esperança aproveitarem bem o tempo presente e, com paciência, esperarem a glória futura (cf. Rm 8,25). Mas não devem esconder esta esperança no seu íntimo, antes, pela contínua conversão e pela luta ‘contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra os espíritos do mal’ (Ef 6,12), manifestem-na também nas estruturas da vida secular” (LG 35).
Feliz Ano Novo a todos com muita esperança!
Escrito por Dom Pedro Carlos Cipollini