Mês de agosto, é inevitável refletirmos sobre “vocação”. Vocação de todos os seres humanos a serem imagem e semelhança do Pai celeste, vocação do cristão a unir-se a este Pai celeste no itinerário de conversão, o qual se inicia no Batismo. Vocação de todos os batizados à santidade, ou seja: íntima união com Deus.
Unidos a Deus, os santos elevam a humanidade toda até Ele. A verdadeira transformação do mundo se dá pelos santos. Com eles, Deus constrói o seu Reinado que não terá fim. A santidade, nós a vivemos no cumprimento de nossos deveres, fazendo a vontade de Deus em nossa vida, mesmo que ela seja misteriosa e contraditória para nós.
Vejamos a história de Abraão, considerado o pai da fé. A bíblia o mostra feliz e rico em sua casa, em seu país. Deus o convida para uma aventura, sair e andar por lugares desconhecidos. Ele vai, iluminado pela luz da fé. Parte tendo como segurança somente uma promessa que Deus lhe faz.
Vemos que, para viver uma vocação, um chamado de Deus, é necessário o desprendimento como base ou alicerce, para que a casa seja bem construída. “Quem deseja alcançar seu verdadeiro Eu, deve emigrar de todos os laços e dependências, antes de tudo da dependência do pai e da mãe… Quem, como adulto, ainda estiver ligado a seus pais nunca viverá sua própria vida. Não se trata de uma libertação externa, como mudar de casa, mas de uma libertação interior” (Anselm Grun).
Para viver a vocação necessitamos nos libertar do passado, deixar nossas feridas para trás, do contrário não estaremos abertos ao que a vida nos oferece. Enfim, como Abraão, devemos emigrar do mundo visível para sermos capazes de entrar em contato com o invisível. Isto porque o caminho para nos realizarmos humanamente, de forma plena, é um caminho espiritual. É preciso sair de tudo o que nos acomoda: sucesso, posses, etc. Isto nos faz peregrinos do Absoluto.
Ao viver a vocação no dia a dia, cada um se torna viajante, peregrino como Abraão. Assim se descobre que Deus não exige sacrifícios, mas exige nosso coração. Nesta peregrinação não vamos possuindo Deus, mas vamos nos tornando sábios e santos, capacitados para o encontro definitivo com Ele. Neste caminhar na fé, vamos adquirindo a certeza de estarmos já de certa forma naquilo que esperamos.
Neste mês de agosto, somos convidados a rezar sobretudo pelas vocações sacerdotais e religiosas. No dia quatro deste mês celebramos a memória de S. João Maria Vianney, o Cura d’Ars (1786-1857), padroeiro dos sacerdotes. Ele viveu sua vocação sacerdotal como peregrino da fé, com os pés na terra e os olhos fixos no infinito.
Disse Jesus: “A messe é abundante, mas os trabalhadores são poucos; rogai, portanto, ao senhor da messe que mande trabalhadores à sua messe” (Mt 9, 37-38). Peçamos sacerdotes que, olhando para o infinito, ajudem o povo a sair da tristeza e desânimo para olhar também para o infinito. Pois aqui não temos morada permanente (cf. Hb 13,14).
Artigo escrito por Dom Pedro Carlos Cipollini para o jornal A Boa Notícia – edição de agosto.