Com sensação de impotência assistimos ao desmantelamento dos sistemas sociais ou de previdência, numa “desconstrução” da modernidade na qual as garantias sociais eram o sustentáculo da existência individual. Tudo se tornou discutível e questionável. Predomina a crença de que todos devem prover a si próprios, sem sobrecarregar os outros com suas necessidades e insuficiências. Esta é a base da ideologia neoliberal.
Neste clima onde cada um pensa em si mesmo induzido pelo individualismo, onde cada um é impelido a reivindicar seus direitos individuais com mais força, perguntamos se ainda há espaço para se viver a solidariedade, a qual nos recorda os deveres, em especial o dever de amar-nos uns aos outros e trabalhar pelo bem comum, como ensinou Jesus.
A Declaração dos Direitos Humanos pela ONU em 1948 assinalou um ponto de chegada para a humanidade ao garantir os direitos humanos básicos. Mas é também ponto de partida, pois, assinala consequentemente os deveres de uns para com os outros e os deveres de cada um, no sentido de construir uma sociedade justa e fraterna que possa trazer realização a seus membros.
Somente reivindicando os direitos, sem levar a sério os deveres, não podemos ter cidadania completa. Os direitos não podem ser interpretados de forma individualista, sem ligação com o outro, com a comunidade e toda a sociedade. Precisamos continuar desenvolvendo uma cultura dos direitos sem se esquecer dos deveres e da responsabilidade.
Onde as pessoas exigem seus direitos e se dispensam dos deveres, há um mundo de crianças ou adolescentes, de imaturos, inaptos para a vida em sociedade e para a vida numa democracia verdadeira. O Estado requer seus direitos ao arrecadar os impostos e exigir dos cidadãos que estejam dentro da lei. Mas o mesmo Estado não cumpre muito dos deveres que lhe cabem e que estão na Constituição. Os políticos e muitos profissionais liberais fazem juramento de cumprir os deveres. Os que exercem cargos públicos e demais categorias. Porém quanto dos deveres são cumpridos?
Enquanto formos o país do “jeitinho”, da tolerância com a corrupção e a violência, seremos o país dos desastres que poderiam ter sido evitados por todos os que tinham deveres, mas pensaram somente em seus direitos procurando levar vantagem em tudo.
Somente a fé em Deus e a prática de seus ensinamentos expressos no coração do homem, em sua consciência e na Bíblia Sagrada, podem conferir ao ser humano o equilíbrio e a sensatez, de requerer seus direitos sem se omitir de cumprir seus deveres, para que tenhamos a justiça e a paz que todos queremos.
Artigo escrito por Dom Pedro Carlos Cipollini para o Jornal Diário do Grande Abc.