Participantes da Assembleia Sinodal da Diocese de Santo André comentaram sobre os desafios da proposta aprovada, em encontro ocorrido no dia 15 de novembro, no Externato Santo Antônio, em São Caetano do Sul
A Proposta 2 (Ação Missionária Permanente para fortalecer a presença da Igreja junto aos mais pobres nas periferias, aos cristãos afastados, aos doentes, e aos grupos necessitados de motivação e acolhida) teve a adesão de 12,8% de representantes dos grupos, movimentos, associações e pastorais. Essa prioridade também estará entre as ações que nortearão a Igreja Católica na região, a partir do próximo ano.
Resgate dos cristãos
Nem sempre é uma tarefa fácil a prática do convencimento. Mas a perseverança está aí para comprovar que não há limites para uma reaproximação entre as duas partes: a ‘ovelha desgarrada’ e a Santa Igreja.
Pesquisa quantitativa e qualitativa divulgada pela USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), encomendada pela Diocese de Santo André, no fim do ano passado, para servir de base aos debates do Sínodo Diocesano, revelou que o número de católicos na região do Grande ABC é representado por 46,8%, num universo de 2,7 milhões de habitantes, quase 10% menos em relação a seis anos atrás, quando o catolicismo atingia 56,5%.
Alguns fatores que explicam essa queda respondem em muito pela migração para outras religiões, principalmente evangélicas, ou mesmo pelos católicos afastados da igreja.
De acordo com José Pereira dos Santos Filho, 53 anos, engenheiro mecânico desempregado e paroquiano do Santuário Senhor do Bonfim (Santo André), a Igreja Católica necessita urgentemente criar um grupo de trabalho e ação para acompanhar e diagnosticar os motivos destes afastamentos e mudanças de religião.
“Nosso principal desafio é fazer um trabalho voltado para as regiões periféricas. Buscar entender as pessoas. Dialogar e ouvir! Descentralizar a Igreja e atuar nas periferias. Ir de encontro ao povo. Esse é um trabalho que precisa ser desenvolvido, como pede o nosso Papa Francisco”, salienta.
Por outro lado, Maricleide Lameiras, funcionária pública, 53 anos e integrante da Ordem Franciscana Secular, reforça que o cerne da questão é investir mais na espiritualidade e usar o ‘coração’ na abordagem dos mais necessitados na sociedade.
“Nosso trabalho é a ação missionária. De ir ao encontro das famílias afastadas, dos nossos católicos afastados da Igreja. Estarmos permanentemente em missão de levar a alegria do evangelho, as nossas famílias, trazendo-as de volta a nossa comunidade. Sobretudo, indo de encontro aos pobres, mais necessitados. Levando não somente alimentos, mas ajuda espiritual. Porque hoje está sendo esquecido. Muitas vezes levamos o alimento, a comida, mas esquecemos o alimento espiritual”, analisa.
Confira mais opiniões de participantes sobre a terceira prioridade eleita na Assembleia Sinodal:
“A Igreja tem que ter atuação mais para fora. Como sair para fora? Atualmente perdermos muitos cristãos, em razão do que ocorre no mundo, em termos de violência, guerra e desumanidade. Nesse sentido, a Igreja precisa resgatar essas pessoas, se posicionar sobre os temas. E essa ação missionária também precisará de formação, pois os agentes precisam estar em sintonia com o que pensa a Igreja”
Vitor Saldanha, 66 anos, metalúrgico aposentado, integrante da Pastoral Operária na Paróquia São Jorge (Santo André)
“A proposta 2 nos questiona como chegaremos até as pessoas. Nos aproximarmos daquelas que estão distantes. Na questão da acolhida, no que o Papa Francisco nos pede e aquilo que o próprio Sínodo nos diz que, uma Igreja em Saída é caminharmos juntos. Juntos com aqueles mais necessitados da palavra, de uma acolhida em todos os momentos. Abrir as portas da Igreja não apenas para celebrar, mas trazer dignidade para cada pessoa, a fim de que se sintam acolhidas, nas situações de dificuldades, tanto na questão pessoal, quanto na familiar. Esse é um ponto muito forte que já deveria ser trabalhado e ter atenção especial de cada membro e representante de pastoral para colocarmos em prática essa prioridade”
Aparecida Beatriz, 35 anos, irmã franciscana de Cristo Rei, Paróquia São Sebastião (Rio Grande da Serra)
“Penso que a proposta vai ao encontro daquilo que o padre (José Oscar – teólogo e historiador) Beozzo e Dom Leomar (Antonio Brustolin – bispo auxiliar de Porto Alegre) vieram orientando-nos durante o percurso do Sínodo. Aquilo que foi aparecendo no próprio hino, na oração que rezamos continuamente, de ir ao encontro daqueles que mais precisam, dos empobrecidos, das realidades que mais exigem a nossa presença. E se faz necessário partirmos para o diálogo, o serviço, o testemunho de comunhão e também levando o anúncio que já está nessas outras três exigências de evangelização. Nesse processo de uma Igreja em saída, fico feliz porque vai exigir de cada um de nós, de coração aberto a todo o povo, sem se apegar aos conservadorismos, fundamentalismos, ou seja, uma visão de Igreja que já não condiz mais com uma realidade nova que o Concílio Vaticano II veio permitir que abríssemos os olhos e fôssemos ao encontro do povo.”
José Ricardo Baptista, 50 anos, Coordenador de Pastoral das Unidades Escolares e Unidades de Assistência Social do Instituto das Filhas de São José do Caburlotto – Paróquia Santa Luzia (Ribeirão Pires)
Reportagem e fotos: Fábio Sales
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