Tomás nasceu em 1225, no Castelo de Roccasecca, Condado de Aquino, no Reino da Sicília, filho de Landolfo e Teodora. Durante a infância estudou com os monges beneditinos em Montecassino e na adolescência foi estudar em Nápoles, onde teve seu primeiro contato com a Ordem dos Pregadores, popularmente conhecidos como Dominicanos, ordem na qual ingressaria depois. Sua vocação à vida religiosa não foi facilmente aceita por sua família, que no lugar de frei mendicante o queria Abade. Foi raptado, preso no castelo da família durante cerca de um ano, mas não desistiu de seus propósitos e a família acabou cedendo. Cedeu não sem antes tentar dissuadi-lo da intenção, pois contam seus biógrafos que a família colocou na cela de Tomás uma moça para seduzi-lo. Ele por sua vez afastou tal tentação ameaçando-a com uma brasa da lareira.
Tendo ingressado na ordem, estudou filosofia e teologia, e foi ordenado presbítero. Sua vida religiosa foi desde cedo dedicada à oração, estudo, ensino e produção de ricas obras de filosofia e teologia. Seu nome é amplamente divulgado nas universidades, seja nos cursos de filosofia e de teologia, mas não parece ser um santo muito popular. Um exemplo claro disso é que em nossa Diocese de Santo André, que possui 105 paróquias e cerca de 250 capelas e/ou comunidades, não há um só templo dedicado à sua memória. Por outro lado, suas obras estão cada vez mais sendo traduzidas do original em latim para o português, e publicadas por diversas editoras brasileiras, sejam as religiosas ou as seculares. Daí a pergunta do subtítulo desse texto: Santo Tomás de Aquino é mais um intelectual do que um místico?
Para quem faleceu aos 49 anos de idade, sua obra é extremamente extensa, contando com mais de 100 títulos, fora os que são de provável autenticidade e as de autenticidade dúbia. Suas maiores obras são: Escritos sobre as Sentenças, Suma contra os Gentios e Suma Teológica. As duas últimas, que são mais conhecidas, contam respectivamente com 473 capítulos e 512 questões, mesmo esta última tendo ficado incompleta. São famosas também as suas questões disputadas, que são reflexos do estilo de pesquisa nas universidades medievais da época. Nelas tratou dos temas do mal, do poder de Deus, das criaturas espirituais, da verdade, das virtudes, da alma. Escreveu opúsculos sobre filosofia, teologia, de combate a favor dos mendicantes, de censuras, além de respostas a perguntas que lhe foram enviadas. Comentou obras de Aristóteles, a quem denominava o Filósofo, dos neoplatônicos, de Boécio. Também fez comentários bíblicos aos livros de Jó, dos Salmos, os evangelhos de Mateus e João, a todas as cartas de São Paulo, a quem chamava de o Apóstolo, e ao livro de Hebreus. Escreveu conferências, sermões, entre outros documentos.
Canonizado pelo Papa João XXII em 18 de julho de 1323. Declarado Doutor da Igreja pelo Papa Pio V em 11 de abril de 1567. Mesmo tendo algumas teses atribuídas a si condenadas pelo bispo Estevão Tempier, suas obras foram recomendadas pelos Papas Leão XIII, Pio X, Pio XI, Paulo VI, João Paulo II e Bento XVI. É citado cerca de dezenove vezes nos documentos do Concílio Vaticano II, onze dos seus títulos são citados no Catecismo da Igreja Católica, além de ser recomendado no Código de Direito Canônico como um dos principais mestres a ser estudado na teologia (cf. cânon 252 §3), aliás o único nome citado no parágrafo. Uma busca no catálogo online de dissertações e teses da CAPES aponta 14.903 trabalhos acadêmicos onde Santo Tomás é citado nas áreas de filosofia, teologia e ética, em 59 universidades brasileiras. Depois de tantos números, é preciso perguntar novamente: será Santo Tomás um santo apenas intelectual e não místico?
Uma leitura atenta dos seus biógrafos diz justamente o contrário. Sabe-se bem que muito do que se fala da vida dos santos de tempos tão remotos tem muito de lenda, mas apresentemos aqui alguns fatos extraordinários da vida de Santo Tomás. Para começar, diz-se que na sua infância ele chorava sempre que tiravam de suas mãos um pedaço de papiro onde estava escrito “Ave Maria”. Estudando com os monges beneditinos, perseguia os religiosos sempre perguntando “Quem é Deus?”. Durante todo o tempo em que permaneceu preso no castelo de sua família, dedicou-se à oração com a mesma intensidade que se dedicou ao estudo. Ordenado presbítero, celebrava a Eucaristia diariamente, o que era totalmente incomum à época, e ainda acolitava ou simplesmente participava de outra missa presidida por outro presbítero. Sempre que tinha alguma questão intelectual que não conseguia resolver, encostava a cabeça no sacrário até que a resposta lhe viesse à mente. Conta-se também que tinha o dom das lágrimas e da levitação durante a oração.
No entanto, como dito acima, todos esses fatos podem ser colocados como lendas medievais. Mas parece ser difícil considerar um intelectual sem mística o autor do hino das laudes para a Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, cujos dois últimos parágrafos conhecemos popularmente como “Tão sublime sacramento”. Também é atribuída a ele lindas preces, como Adoro te devote, cujo texto diz: “Eu Te adoro, ó Deus escondido, verdadeiramente Tu estás sob essas espécies! Salve, ó Jesus, verdadeiro maná. Cristo, aumenta a fé de todos os que creem em Ti. Amém”. Não parece ser, um santo de tal estirpe mística, apenas um intelectual inteligível e inadequado para o século XXI.
Artigo desenvolvido por Rafael Ferreira de Melo Brito da Silva