Muitas coisas em nossas vidas exigem uma tomada de decisão, podendo mudar radicalmente o nosso futuro e os planos já há muito tempo almejados. Não é diferente no caminho do discipulado proposto nos quatro evangelhos, pois para seguir o mestre existe um grande passo entre “deixar as redes” (Mc 1,18) e “abandonar todo o apego aos bens, às riquezas, às posses e certezas” (Mc 10,21). É um longo caminho, um verdadeiro percurso que deve inspirar-nos algo novo, isto é, o desejo por um mistério que ainda nos será revelado, o qual não conhecemos plenamente. De fato, há um chamado que deve ser atendido e devemos responder mediante o tamanho da nossa fé, exigido assim, certa dose de coragem.
Por ser um passo às vezes incerto, confuso e estranho a tudo aquilo que nos dá segurança, a nossa fé exige essa coragem, uma ousadia que jovem rico não teve (Mc 10,17-22); pelo mesmo motivo alguns discípulos olharam para Jesus e disseram: “esta palavra é dura. Quem consegue escutá-la?” (Jo 6,59) e foram embora. Entre a coragem de abandonar as redes e se desapegar dos bens que possui, existe um grande passo, que só pode ser dado no caminho que percorremos ao lado do próprio Cristo.
O chamado é simples, sutil e de forma prática: “segui-me e eu farei de vós pescadores de homens” (Mc 1,17. Mt 4,19). O primeiro passo não é o mais difícil, na verdade é o mais simples, e muitos se dizem seguidores de Jesus. As dificuldades, porém, surgem entre o “deixar tudo” e o “seguir”, e muitas são as coisas a serem deixadas: “as más intenções, imoralidades, roubos, assassínios, adultérios, ambições desmedidas, maldades, fraudes, devassidão, inveja, calúnia, orgulho, falta de juízo” (Mc 7,21-22). Desapegar-se do individualismo é essencial para quem deseja estar com Jesus: “só uma coisa te falta: vai, vende o tudo que tens e dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois vem e segue-me” (Mc. 10,21). Neste momento, uma fé corajosa é decisiva para se deixar tudo e seguir, para não por a mão no arado e olhar para trás (Lc 9,62), esse é o passo mais difícil, o não olhara para trás.
Muitos dizem: “mestre, eu te seguirei aonde fores” (Mt 8,19), mas depois definham, recuam e retornam a vida antiga. Fomos, porém, chamados a estar com Jesus e permanecer com ele (Mc 3,14), pois não nos chamou preparados, mas para nos preparar, instruir e auxiliar. Pensemos, por exemplo, nos reis magos vindos do Oriente: abandonaram tudo para seguir uma estrela que eles nem sequer sabiam exatamente de onde surgiu e para onde os levaria, mas a fé no que a estrela indicava foi o que os fez seguir, eles queriam estar com o rei dos judeus que acabava de nascer, desejavam conhecê-lo, contemplá-lo e presenteá-lo, e quanta coragem foi necessária para essa viagem cheia de incertezas (Mt 1-12).
Uma vocação fundamentada nessa certeza que a fé nos dá e a coragem para deixar tudo e seguir são algumas características de um bom caminho a ser percorrido, quando nos falta essa fé, com humildade nos a pedimos: “eu creio, mas ajuda a minha falta de fé” (Mc 9,24). Estar com Jesus de coração e permanecer com ele é o que nos da força e coragem para olhar o mestre e dizer: “a quem iremos senhor? Tu tens palavras de vida eterna” (Jo, 6,68).*
Artigo desenvolvido pelo seminarista da Diocese de Santo André Douglas Colácio.