Para celebrar a Páscoa do Senhor, somos convidados a vivenciar um tempo de preparação pessoal, espiritual e comunitária: a quaresma. “Agora, diz o Senhor, voltai para mim com todo o vosso coração, com jejuns, lágrimas e gemidos; rasgai o coração, e não as vestes” (Jl 2,12-13). Mais do que trocar o branco da festa pelo roxo da introspecção, somos chamados a viver uma profunda mudança interior pela constância da oração, do jejum e da esmola. (cf. Mt 6,1-18).
A oração é o momento de encontro pessoal com o Senhor, mas também é o momento do silêncio para entregar ao Senhor aquilo que somos em nosso íntimo. Por isso, na oração, encontramos com o Senhor, mas também com o verdadeiro eu, com nossas potencialidades e também com nossas misérias. É tempo de crescimento pessoal, de limpeza de mentalidade, de abandonar os velhos hábitos. A oração deve levar à conversão, e não somente a uma maquiagem de piedade e retidão, de trocar tons alegres por tristeza e luto. É conversão do interior.
Quando tratamos do jejum, mais do que ter uma dieta restritiva, de abster-se de determinados tipos de alimentos, é necessário um jejum de atitudes que nos separam dos irmãos e irmãs. É trocar aquilo que provoca desunião por atitudes novas. Deixar florescer a empatia, o compromisso, o servir. Deixar o egoísmo, a falsa piedade, a crítica destrutiva de lado em prol do homem novo, nascido da água fecunda do Batismo. É cortar aquilo que nos impede de sermos construtores do Reino de Deus.
Impelidos ao conhecimento do Senhor pela oração, transformando as atitudes pelo jejum, somos levados ao encontro dos irmãos pela esmola/caridade. Mais do que um gesto para aliviar uma consciência pesada, ou para justificar uma falsa piedade, a prática deve ser um momento de acolhida ao irmão que vive em sua própria vida as marcas da Paixão do Senhor. É o exercício desse encontro com o outro, de sair de si, que vai mudando a veste do cristão nesse tempo quaresmal. O 8º Plano Diocesano de Pastoral aponta-nos essa necessidade de sair, numa missão de acolhida fraterna dessa sociedade cheia de tristezas e alegrias, angústias e esperanças.
Neste ano de 2019, a Igreja no Brasil celebra a quaresma no espírito da fraternidade e políticas públicas com o lema: “Serás libertado pelo direito e pela justiça” (Is 1,27). Diante de tema tão rico e necessário, somos chamados a nos converter para vivenciar a política como a arte de cuidar do bem comum e assim contribuir para a construção de um Brasil digno e justo a partir dos que mais sofrem. Papa Francisco nos lembra que a política é a mais nobre forma de exercer a caridade. Deixemo-nos alcançar pelas cinzas da penitência quaresmal, para que delas saíamos novas pessoas em Cristo.
*Artigo desenvolvido por Glauber Machado e Jerry Adriano Villanova Chacon