“Equilíbrio Emocional e Estrutura Familiar”. Esse foi o tema da palestra do psicólogo e professor Gustavo Trevisan ocorrida na noite de terça-feira (29/10), no Auditório Dom Jorge Marcos de Oliveira do Edifício Santo André Apóstolo, na Cúria Diocesana, em Santo André. A atividade reuniu cerca de cem pessoas e fez parte da série de Encontros Formativos da Pastoral Familiar da Diocese de Santo André.
Formado em Psicanálise, Mestre em Psicologia Social pela PUC-SP e Doutor em Psicologia Social pela USP, Gustavo Trevisan conversou com a reportagem diocesana sobre o assunto e deu dicas sobre como combater a ansiedade e encontrar o equilíbrio ideal na sociedade atual.
Qual o protagonismo da família na busca do equilíbrio emocional?
Quando falamos de equilíbrio emocional não temos como não falar de família. Sabemos que a família é um laboratório da sociedade. Então ela é reflexo e vai refletir dentro de casa o que a vida oferece. Faz parte da família também criar esse ambiente para que as pessoas tenham desenvolvimento nas suas inteligências emocionais. Então, orientar os casais a criar bem os filhos neste sentido. Porque a gente se preocupa em dar escola, prover alimentação, diversão, mas pouco se fala em preparar essa pessoa para a vida, no sentido de ter um equilíbrio emocional.
E quais aspectos contribuem para o crescimento do número de pessoas com síndrome de ansiedade?
É um dado interessante e na minha opinião um caso de saúde pública. São 18 milhões de pessoas que sofrem atualmente de algum problema relacionado à crise de ansiedade no Brasil. Para se ter uma ideia, nosso país é mais ansioso do mundo. E Jean-Paul Sartre (filósofo francês, 1905 — 1980) já dizia “quanto maior a autonomia, maior a angustia da escolha”. Tem uma parcela de culpa também de como a gente lida com as frustrações. Hoje se encontra uma facilidade muito grande. A facilidade garante uma baixa tolerância à frustração, porque tudo vem fácil e quando a gente não tem aquilo que queremos aumenta a ansiedade.
Como combater a ansiedade e evitar frustrações no dia a dia?
Primeira coisa que temos que entender é preparar os filhos para a frustração. O não é importante. Entender que o filho é capaz de fazer por si mesmo.Vou dar um exemplo: meu filho tem dois anos e meio. Esses dias caiu uma bolinha embaixo do sofá e o ímpeto que tenho é ir lá, dar a bolinha para ele e está resolvido o problema. E ele se esticou, tentou. Só que era algo que eu tinha certeza que ele era capaz de fazer. Ele transpirava. No momento que ele pegou a bolinha olhou com uma cara de satisfação. É criarmos nas pessoas essa capacidade de resolver os próprios problemas, essa inteligência emocional. Tenha tolerância à frustração. E a família é responsável por isso.
Deixe uma mensagem para as famílias encontrarem o verdadeiro equilíbrio emocional.
Os pais têm ansiedade de antecipar ciclos. Nos preocupamos em dar formação para os filhos. Quero dizer aos pais que o ambiente familiar tem de ser um ambiente de co-construção, de criar um ambiente para as crianças serem crianças, de fato, e estimuladas a falar de sentimentos. Muitas vezes quando a pessoa está triste, já queremos dar algo para comer, levar a pessoa para passear. Não! Estimule seu filho a falar de sofrimento. E dessa forma vai criando a saúde emocional para nossos filhos.
E para os casais, hoje no mundo do descartável, de que tudo não presta, tudo é frágil, como diria o sociólogo Zygmunt Bauman (1925-2017) “tudo é líquido”, então os relacionamentos têm que ser construídos a base de solidez. Entender que existe um outro com suas próprias características e saber que tem a sua maneira de ser. E vejo pessoas tentando encaixar o outro nos seus quadrados e o relacionamento não vai para frente. É preciso sempre os dois respeitando as características de cada um. Isso é o mais urgente. Jesus veio para nos ensinar a amar o outro do jeito que ele é. E é o próprio amor que faz o outro ser transformado. O desafio é esse: primeiro ama, que o próprio amor transforma.