Josemaría Escrivá nasceu no dia 09 de janeiro de 1902, em Barbastro, na Espanha. É filho de José Escrivá e María Dolores Albás, casal profundamente católico que desde a tenra infância do menino, introduziu-o no caminho da prática cristã. Por volta dos dois anos de idade foi acometido por uma grave doença que quase o levou a óbito, mas diante da súplica dos pais a Nossa Senhora, teve a vida salva. O mesmo destino não teve suas irmãs pequenas: em 1910 falece Rosario com nove meses; em 1912, Lolita com cinco anos; e em 1913, Asunción com oito anos. Apesar desses trágicos anos, o menino teve uma infância que lhe rendeu boas recordações, por conta do carinho e afeto do pai, e o bom exemplo de mulher jamais ociosa da mãe. Ficou-lhe gravada no coração, uma frase da mãe ao menino diante de uma situação em que sentiu vergonha das visitas: “Josemaría, vergonha só para pecar”.
Foi no inverno de 1914 que, por conta da Primeira Guerra Mundial, tendo se mudado para Logronho, que o adolescente Josemaría teve uma experiência simples, mas importante para a descoberta da sua vocação. Ele percebeu que havia pegadas na neve de uma pessoa descalça e começou a segui-las, chegando até à igreja da região, onde descobriu que as pegadas eram de um religioso carmelita descalço. Ao entender que o religioso tinha feito isso por amor a Deus, perguntou-se: “E eu, o que posso oferecer a Deus?”. Desde esse momento sua vida mudou radicalmente, começou a participar da Santa Missa diariamente e foi crescendo em sua mente, a ideia de ser padre. Sua família, muito embora não planejasse isso para ele, por sua grande prática cristã, não se opôs. Mesmo assim o menino Josemaría comprometeu-se com o pai que se formaria em direito, como era seu sonho.
Em 1918 entrou para o Seminário de Logronho, como aluno externo, pois vivia nessa cidade; e dois anos depois, em 1920, entrou para o Seminário de São Carlos, de Saragoça. Em 1923 recebeu autorização e começou a estudar Direito na Universidade Civil de Saragoça, começando a realizar o sonho de seu pai. Costumava visitar com frequência a Basílica de Nossa Senhora do Pilar, próxima ao seminário, e na capela do Santíssimo do seminário passava horas rezando. Em 27 de novembro de 1924 precisa ir às pressas para Logronho, pois seu pai faleceu. O homem que sempre foi para si um exemplo de honradez e espírito de sacrifício pelos outros, não iria presenciar a sua ordenação. Esta se deu em 25 de março de 1925 na capela do seminário, cinco dias depois ele celebra a sua primeira missa, na Basílica de Nossa Senhora do Pilar, em sufrágio da alma de seu querido pai, na presença da mãe, irmãos e alguns amigos.
A vida deste homem de Deus se confunde com a história de sua Obra, como assim é chamada carinhosamente a Prelazia Pessoal Opus Dei, expressão latina que significa obra de Deus. A inspiração para a fundação de sua obra lhe veio em 02 de outubro de 1928, dia dos Santos Anjos da Guarda, enquanto o padre Josemaría estava pregando retiro para os padres de São Vicente de Paulo, em Madri. Obviamente sua Obra não nasceu com este status canônico de Prelazia Pessoal, nasceu antes como uma inspiração simples que aos poucos foi tomando forma, assim como acontece em tantas outras fundações das quais conhecemos suas histórias. Mas, desde o princípio, algo lhe estava razoavelmente claro: todas as pessoas, e não apenas clérigos e religiosos, são chamados à santidade. Essa é a grande mensagem do Opus Dei para a Igreja Católica do século XX, que presenciou também o Concílio Vaticano II.
De fato, o Concílio Vaticano II, na sua Constituição Dogmática Lumen Gentium (Luz dos Povos) sobre a Igreja, defende em seu capítulo V, que todos os seres humanos, filhos de Deus, têm uma vocação comum: a santidade. Esta santidade se constrói na vida cotidiana, a partir dos deveres de estado de cada um, ou seja, clérigos, religiosos, cônjuges, solteiros. Todos devem buscar ser santos conforme seu estado de vida, a partir do seu cotidiano. A constituição foi aprovada em 21 de novembro de 1964, mas já em 1928 Deus havia dado essa inspiração ao jovem padre Josemaría. E foi essa mensagem que ele difundiu por todo o mundo, por meio dos centros da Obra, estando em contato direto com as pessoas. Como estamos falando de um santo contemporâneo, temos a graça de encontrar na Internet muitos vídeos curtos, mas com mensagens profundas e significativas, do próprio santo. Além disso, existe um site em português onde se pode encontrar gratuitamente todos os seus escritos: http://www.escrivaworks.org.br/.
Um dos seus livros mais conhecidos, Caminho, que é escrito em aforismos chamados de pontos, começa com uma reflexão forte sobre o caráter: “Que a tua vida não seja uma vida estéril. – Sê útil. – Deixa rasto. – Ilumina com o resplendor da tua fé e do teu amor. Apaga, com a tua vida de apóstolo, o rasto viscoso e sujo que deixaram os semeadores impuros do ódio. – E incendeia todos os caminhos da terra com o fogo de Cristo que levas no coração” (ponto 1). Em outra de suas obras, Amigos de Deus, uma coletânea de homilias, no capítulo intitulado Rumo à santidade, ele começa assim: “Sentimo-nos tocados, com um forte estremecimento no coração, quando escutamos atentamente o grito de São Paulo: Esta é a vontade de Deus, a vossa santificação. É o que hoje, uma vez mais, proponho a mim mesmo, recordando-o também a quantos me ouvem e à humanidade inteira: esta é a Vontade de Deus, que sejamos santos” (ponto 294). O homem que dedicou a sua vida a nos ensinar que todos podemos ser santos, desde que sejamos generosos e amemos, foi canonizado pelo Papa São João Paulo II, no dia 06 de outubro de 2002, diante de uma multidão presente na Praça de São Pedro.
* Artigo por Rafael Ferreira de Melo Brito da Silva