“Onde está o perdão? A lógica do perdão nos choca profundamente, mas é a demonstração da mais pura misericórdia que está no coração do evangelho. Ela é o que deveria caracterizar com mais propriedade o que é ser cristão. O que é ser cristão? É aprender a perdoar de todo o coração.”
No Ano Vocacional Diocesano e no Mês da Bíblia, a reflexão do bispo da Diocese de Santo André, Dom Pedro Carlos Cipollini, durante a Santa Missa matutina do 24º Domingo do Tempo Comum (13/09), é um chamado para o questionamento do Evangelho de Mateus (18,21-35) de que o ato de perdoar não se dá apenas em nível pessoal, mas também a nível social.
De acordo com o pastor da Igreja Católica no Grande ABC, citar a prática do perdão nos tempos atuais pode parecer muitas vezes estranho, até mesmo para os cristãos. “Estamos numa cultura que fomenta competição, o armamento da população, a vingança, o ódio. Parece que está na moda como vantagem”, aponta como desafios para as pessoas se redimirem das culpas e maus sentimentos. Dom Pedro prossegue a meditação sobre o tema e alerta: “Muitos cristãos acham que o amor e o perdão são incompatíveis com o empenho social em favor da justiça, em favor dos pobres. Outros acham que perdoar é para os fracos. Quantas pessoas que se empenham na promoção social dos pobres condenam os ricos já em vida, esquecendo que o evangelho do perdão é para todos?”, indaga. “O evangelho nos ordena a amar o próximo demonstrando esse amor através do perdão. Quem ama, perdoa”, conclui o bispo.
Como acontece nas manhãs de domingo, desde a reabertura da Catedral Nossa Senhora do Carmo para missas presenciais em julho deste ano, a celebração foi presidida por Dom Pedro e concelebrada pelos padres Joel Nery (pároco da Catedral) e Camilo Gonçalves de Lima (secretário episcopal).
Nesta ocasião em especial, a celebração também foi marcada pelo envio da nova coordenadora diocesana da Pastoral da Criança, Maria Alice Lucchini, na Missa em Ação de Graças pelos 33 anos do organismo de ação social na Diocese de Santo André.
Confira aqui a homilia de Dom Pedro na íntegra
*
Aprendendo a perdoar
Destacando as particularidades de mais uma parábola de Jesus, Dom Pedro conta que aquele certo empregado que fora perdoada a dívida pelo patrão, ao sair dali imediatamente efetuou uma cobrança a um de seus companheiros para que pagasse a dívida, sem pensar em perdoar, assim como o próprio patrão tinha perdoado anteriormente. Quando ficou sabendo da notícia, o patrão ficou indignado. “Dessa parábola tiramos a conclusão de que Jesus atrela o perdão de Deus ao perdão que concedemos aos irmãos. A compaixão é o patrão na parábola que simboliza o próprio Deus. Somos exortados a imitar Deus em nosso dia a dia, usando da compaixão e compreendendo o caminho revolucionário do perdão”, explica.
Mesmo com as dificuldades em muitas vezes ser perdoado, mas ter dificuldades para perdoar o próximo, o bispo diocesano ensina: “Devemos perdoar, nem que seja a prestação. Mas é tão difícil perdoar. Vai perdoando em várias prestações. O amor perdoa. Medite a Paixão de Cristo, que morreu perdoando os seus assassinos: ‘Pai, perdoai-os, eles não sabem o que fazem’. Reze o Pai Nosso, pare na parte do perdão, pense e peça a graça para continuar”, elucida. Dom Pedro também cita a reflexão de Papa Francisco, na Evangelii Gaudium, a primeira Exortação Apostólica Pós-Sinodal do Santo Padre (lançada no dia 24 de novembro de 2013): “Deus nunca Se cansa de perdoar, somos nós que nos cansamos de pedir a sua misericórdia.”
Unidade comunitária
Jesus Cristo recorda que não há Cristianismo sem fraternidade, e não existe fraternidade sem perdão. “A manifestação mais alta do amor é quando somos perdoados e quando doamos o perdão. O cristão sempre busca colocar no mundo mais amor, mais reconciliação. Perdão é algo necessário para o restabelecimento da unidade comunitária, da comunidade de fé e nas famílias”, pondera Dom Pedro.
Ele finaliza a reflexão com uma mensagem inspiradora: “Perdão sem santidade, não existe santo que não soube perdoar. É preciso construir comunidades de perdoados e perdoadores. Que saibamos viver o perdão, porque ele é libertador”, frisa.