Estamos numa situação preocupante, parece que a vida humana perde seu valor a cada dia. Pensemos no número crescente de homicídios e suicídios. Além do descaso com idosos, doentes e pessoas especiais. O que vale hoje a vida humana?
No início deste ano, lemos aqui neste jornal: “Os municípios do Grande ABC fecharam 2023 com alta nos crimes contra a vida”, em contrapartida, os delitos contra o patrimônio diminuíram (cf. Diário GABC – Setecidades 27/01/2024). E agora no final deste ano, lemos no mesmo jornal: “Grande ABC vê alta, em setembro, o número de homicídios, estupros e furtos” (cf. Setecidades 03/11/2024). Aumento no crime contra a vida também foi registrado no acumulado do ano. O que acontece?
À medida que nossa sociedade cresce no desenvolvimento considerável em diversas áreas, principalmente tecnológica, as “coisas” vão adquirindo um valor inigualável: celular, carro etc.; porém, a vida humana vai perdendo valor: mata-se por qualquer motivo. O que isto indica?
O comportamento é um espelho no qual cada um mostra a sua imagem, pois a alma não tem segredos que o comportamento não revele. Nossa sociedade está mostrando uma imagem violenta, com base no padrão de valores que a rege. O que vale são os bens materiais e não as pessoas. Para se ter poder de consumo, vale tudo. A lei de Deus, a ética cristã vai perdendo força em detrimento da lei do mercado e do lucro.
Constatamos nesta situação o declínio dos princípios cristão que norteavam a sociedade, privilegiando a ética, a justiça e em especial a vida, dom de Deus a ser preservado. Deus é o doador da vida, e por isso, preservar a vida é respeitar as leis de Deus, os dez mandamentos. Eles fundamentaram as leis da sociedade, desde antes de Cristo. Constatamos que estamos em uma sociedade pós-cristã, dado que a lei do Amor, como ensinou Jesus Cristo, perde seu valor em uma sociedade que, no entanto, tem sede de amor.
De uns tempos para cá vivemos subjugados, explorados, pela arrogância dos senhores do dinheiro, que são os senhores do mundo do capital. Eles impõem suas leis e elas geram violência. Como consequência, vivemos em uma sociedade de estresse e cansaço, exclusão social e pobreza: ou Deus ou o dinheiro, o dinheiro ou a vida!
Precisamos voltar a valorizar a vida humana, ameaçada pela crise climática, mas muito mais pela crise antropológica que nos assola. Esta crise assinala a desvalorização da vida humana, sinalizada por leis que legalizam o ato de matar. E, no entanto, a Bíblia nos traz o mandamento imperecível: Não matar! Precisamos voltar para Deus, para Jesus Cristo e ao amor que valoriza a vida.
Não é difícil, basta ter abertura para aceitar os ensinamentos bíblicos. A prática deste amor encontramos nas Bem-aventuranças proclamadas por Jesus nos Evangelhos. Despojar da fixação nos interesses próprios e ter a capacidade de se entregar para fazer o bem ao próximo: solidariedade.
A fé em Jesus Cristo e a prática do seu mandamento do amor fraterno, cura e salva, valoriza a vida e traz um progresso no qual todos são incluídos!
Se não mudarmos o rumo de nossa sociedade, teremos que dar razão ao Marquês de Maricá que exclamava: “Há muitas ocasiões na vida em que invejamos a irracionalidade dos outros animais”.
+Dom Pedro Carlos Cipollini
Bispo de Santo André