No mês de maio é tradicional na Igreja refletirmos sobre Maria, a mãe de Jesus. Seu papel na história da salvação é destacado, por tudo o que Deus dispôs que ela vivesse e também pela sua adesão ao projeto de Deus, dizendo o seu sim.
A carta de S. Paulo aos gálatas, um dos primeiros escritos do Novo Testamento, assinala a importância de Maria, mostrando sua inserção no mistério da redenção, já no seu início. Isto como primeira colaboradora de Cristo na sua encarnação: “Quando chegou o tempo, Deus enviou seu Filho nascido de mulher”(Gl 4,4). No princípio era o Verbo e o Verbo se fez carne… No seio de Maria. Ela é o local onde Deus se fez homem, onde Deus encontra-se com a humanidade para redimi-la.
O Concílio Vaticano II assinala o papel importante de Maria na vida de Jesus, inclusive na vida pública: “No decurso da pregação de seu Filho ela recebeu as palavras pelas quais, exaltando o Reino acima das raças e vínculos de carne e sangue, Jesus proclamou bem-aventurados os que ouvem e guardam a Palavra de Deus, tal como ela mesma fazia. Assim ela avançou em peregrinação de fé” (LG 58).
Ao escrever sobre Maria, é inevitável refletir também sobre o papel da mulher na Igreja e na sociedade. A mulher encarna a diferença complementar da humanidade. E, nesta diferença, um dos aspectos constitutivos de sua identidade complementar é a maternidade.
Uma primeira consideração que vem à mente é agradecer a Deus pela presença da mulher na sociedade e na Igreja. Fazendo a diferença com sua coragem, sensibilidade e o cuidado que lhes é próprio, para com os pequenos, crianças e sofredores. Um escritor famoso sentenciou: “A mulher tem isto em comum com os anjos: pertencem-lhe os seres que sofrem” (Honoré de Balzac).
Em 1963, na sua famosa encíclica Pacem in Terris o Papa São João XXIII ressaltava entre os três sinais dos tempos modernos sobre o ingresso da mulher na vida pública: “Torna-se a mulher cada vez mais consciente da própria dignidade, não aceita mais ser tratada como objeto ou instrumento, reivindica direitos e deveres de acordo com sua dignidade, tanto na vida familiar como na vida social” (n 41).
Infelizmente, as mulheres ainda são discriminadas no mundo todo, inferiorizadas diante dos homens e em muitos países confinadas à esfera da vida privada. A mulher brasileira compartilha a situação de seu povo, e ainda de forma mais acentuada vive a: pobreza, injustiça, discriminação e o desemprego. Pensemos também na violência contra a mulher que fere e mata a muitas em nosso dia a dia. Mesmo com o avanço de muitos bons movimentos feministas persiste a discriminação da mulher, inclusive quando recebe salário inferior ao do homem ao prestar os mesmos serviços. No entanto aumenta o número daquelas que respondem sozinhas pela manutenção da família.
Na Igreja a presença da mulher é maciça. São atuantes e compõem a maioria dos membros participantes, assumindo inúmeros ministérios. É de se desejar e trabalhar para que também na Igreja a atuação da mulher cresça. Através da valorização e conscientização imensa de sua dignidade, de sua colaboração. Isto se faz na promoção das mulheres aos organismos de consultoria e decisão, hoje majoritariamente composto por homens. O Papa Francisco nomeou recentemente três mulheres (leigas) como consultoras para o “Ministério” da Doutrina da Fé, um órgão de primeira grandeza na vida da Igreja. Devemos prosseguir neste caminho: Seria desejável em nossa Igreja no Grande ABC um Conselho Feminino!
Dando passos firmes, alicerçados na fé e na equidade, vai se construindo um mundo mais justo e fraterno. Inclusive sem corrupção, à medida em que as mulheres, comprovadamente que são menos suscetíveis à corrupção que os homens, em que pese o machismo reinante que esconde as virtudes femininas.
Com Maria a mãe de Jesus, que as mulheres possam exercer seu papel, não atrás, não à frente, mas ao lado dos homens, como irmãos complementares na construção de um mundo melhor
Artigo escrito por Dom Pedro Carlos Cipollini para o jornal Diário do Grande Abc e jornal A Boa Notícia