Finalmente reconheceram que houve abuso e desrespeito ao sentimento religioso cristão. “Organizadores pedem desculpas pela paródia de ‘A última Ceia’ na abertura das Olimpíadas”, e ainda, diz o texto: organizadores pediram desculpas a grupos cristãos católicos pela cerimônia de abertura. Exatamente com este título foi veiculada notícia num dos jornais mais lidos no Brasil.
Em que pese o diretor artístico da cerimônia de abertura, afirmar que seu desejo não “é ser subversivo nem zombar, escandalizar”, foi o que aconteceu. Apesar da tentativa de atribuir o quadro ofensivo referindo-o à obra do artista Jan van Bijlert, intitulada “A Festa dos Deuses”, a evidência da zombaria foi clara. É uma constante o deboche dos símbolos e ícones da fé cristã nos países do Ocidente. Já no Oriente, é perseguição mesmo ao cristianismo. Nunca foram assassinados tantos cristãos como no século XX afirmou São João Paulo II.
De onde vem este desrespeito à liberdade religiosa? Principalmente no caso em questão, acontecido na França, que deu o tom no progresso dos direitos humanos, com a proclamação dos valores da “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”? Se a liberdade é propriedade essencial do homem moderno, um valor fundamental da existência do indivíduo na sociedade, por que este desrespeito à liberdade religiosa?
A declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948, no seu artigo 8, diz: “Todas as pessoas têm direito à liberdade de pensamento, de consciência e religião”. Por isso se deve respeitar a religião. Proibir que se prejudique alguém por suas opiniões religiosas. A incredulidade, a irreligião e o ateísmo só se podem entender em relação à religião e à fé, na liberdade de pensamento e consciência. No respeito ao sentimento religioso de quem o tem.
O concílio Vaticano II, na Declaração “Dignitatis Humanae”, afirma o direito à liberdade religiosa, e fundamenta-o na dignidade da pessoa humana, como patrimônio de todos os homens. É um direito civil porque pertence a qualquer autoridade civil tutelar e promover os direitos humanos. Mas qual a explicação para a violação do direito à liberdade religiosa através do desrespeito e desmoralização do cristianismo?
É patente que estamos em uma crise antropológica que marca nossa mudança de época. Esta crise é marcada pela secularização e negação da ética. Quando o dinheiro governa em vez de servir, olha-se com desprezo para a ética. Ética que não sendo ideologizada, permite criar uma ordem social mais humana e solidária.
Assistimos o crescimento enorme do poder humano através das novas tecnologias. Mas o que não acompanhou esse crescimento foi seu potencial ético. Tudo se tornou relativo, sem referência ao bem, ao mal e muito menos à verdade. Aliás estamos em uma época de “pós-verdade”, na qual se troca a razão pela paixão e os valores judaico-cristãos e a lei natural grega, pelo hedonismo individualista. O subjetivismo moral é a regra para ser “politicamente correto”.
“Nossa civilização sobreviveu e prosperou por um tempo. Então começou a morrer, de dentro para fora. Ela está corroída pelas contradições internas, comunidades desprovidas de valores e indivíduos vazios… e o desejo de silenciar os que pensam diferente tem atingido novos e tenebrosos níveis” (Bem Shapiro).
Como um doente que recusa o remédio, vomitando-o, assim acontece com a recusa e descarte de Jesus Cristo, do qual pode vir a salvação. É ele e seus seguidores, o perigo para o império do Mercado, que sem escrúpulo, destrói indivíduos e Nações!
+Dom Pedro Carlos Cipollini
Bispo de Santo André