Na manhã do dia 2 de fevereiro, a Diocese de Santo André se reuniu em profunda comoção para a missa exequial do Padre Walfrides José Praxedes, falecido aos 89 anos. O sacerdote, que marcou gerações com seu compromisso pastoral e social, foi o último cônego da diocese, encerrando um ciclo na história do presbitério local. A celebração aconteceu na Paróquia Jesus de Nazaré, onde ele viveu seus últimos anos, e contou com a presença de fiéis, religiosos e autoridades.
Durante a homilia, Dom Pedro Carlos Cipollini destacou o profundo amor de Padre Praxedes pela Igreja e sua busca constante por Deus:
“O presbítero deve ser um apaixonado por Deus. A Trindade é a nossa pátria. De lá viemos, para lá voltaremos, e isso nos anima, nos fortalece e nos compromete com uma vida de comunhão com Deus e com os irmãos.”
O bispo também ressaltou o zelo do sacerdote pelo batismo e pela missão evangelizadora:
“Ao lado de sua cama, havia uma certidão de batismo, sinalizando o quanto valorizava esse sacramento. Não devemos negar nossa fé, mas enxergá-la como graça. E mais ainda quando um batizado é chamado ao sacerdócio: é uma graça sobre graça.”
A opção preferencial pelos pobres foi outro traço marcante do ministério de Padre Praxedes:
“Durante toda sua vida, ele se preocupou com a justiça e a fraternidade. Sofreu muito por isso, mas perseverou até o fim. Sua preocupação com os mais necessitados foi um testemunho de amor ao Evangelho.”
Dom Pedro leu o testamento espiritual deixado pelo sacerdote, escrito no retiro do clero em 2006. Nele, Padre Praxedes expressou sua gratidão pelo chamado ao sacerdócio e reconheceu sua pequenez diante da imensa misericórdia de Deus:
“Meu maior desejo é chegar ao último instante de vida reconhecendo o amor sempre fiel do meu Senhor, que me protegeu como a um filho escolhido. Embora nada tenha feito para merecê-lo, confio na sua misericórdia.”
Em suas palavras, ele também pediu perdão por suas falhas e deixou uma mensagem de reconciliação:
“Não me recordo de nenhuma ofensa recebida que deva eu perdoar, mas peço perdão a tantas pessoas que, porventura, tenha ofendido, prejudicado ou não amado suficientemente.”
No final da celebração, foi lida uma mensagem escrita por sua irmã, a religiosa Maria José Praxedes, que esteva presente na missa. Em sua homenagem, recordou a infância simples do irmão e sua vocação precoce ao sacerdócio:
“Filho de uma família pobre, mas rica de fé, desde pequeno demonstrou grande devoção a Jesus e a Nossa Senhora. Ainda criança, já sonhava com o sacerdócio, e dedicou toda a sua vida ao povo de Deus, especialmente aos mais pobres. Descanse em paz, meu amado irmão.”
O Padre Gustavo Laureano Pinto, administrador da Paróquia Jesus de Nazaré, também expressou sua gratidão ao sacerdote. :
“Toda a comunidade sempre teve um carinho muito grande por ele. Durante seus últimos momentos, contou com o cuidado de seis pessoas que se revezavam 24 horas por dia ao seu lado. Que Deus recompense tamanha generosidade e carinho que todos tiveram ao longo da sua vida e ministério.”
Após a celebração, o corpo seguiu para o Cemitério Jardim das Colinas, onde foi sepultado às 16h. Com a partida de Padre Praxedes, a Diocese de Santo André se despede de um sacerdote que viveu o Evangelho na simplicidade e na dedicação ao povo de Deus, deixando um legado de fé, justiça e amor ao próximo.
Uma vida de fé e compromisso: a trajetória de Padre Walfrides José Praxedes
Filho de Joaquim Praxedes e Rosalina de Moraes Praxedes, Padre Walfrides José Praxedes nasceu em 4 de fevereiro de 1935, em Carlópolis (PR), mas foi criado em Porto Feliz (SP). Ingressou no Seminário Menor São Carlos Borromeu, em Sorocaba, e completou seus estudos filosóficos e teológicos no Seminário Central da Imaculada Conceição do Ipiranga.
Durante o curso de Teologia, em 1957, transferiu-se para a Diocese de Santo André, a convite de Dom Jorge Marcos de Oliveira. Foi ordenado sacerdote em 27 de novembro de 1960 por Dom Almir Ferreira, bispo auxiliar de Sorocaba, em sua terra natal, tornando-se presbítero incardinado na Diocese de Santo André,e iniciou seu ministério na Paróquia Imaculada Conceição, em Mauá. Ao longo de sua trajetória, atuou em diversas paróquias da diocese, sempre com um forte compromisso social e pastoral.
Em 1963, foi nomeado o primeiro reitor do Seminário Menor Diocesano, em Paranapiacaba, e também o primeiro pároco da Paróquia São Jorge (hoje São Paulo Apóstolo), no Jardim Zaíra. Seu trabalho esteve sempre voltado à evangelização dos trabalhadores e à defesa dos mais pobres, o que lhe trouxe perseguições durante a ditadura militar, levando-o a atuar por um período em outras dioceses.
Após seu retorno a Santo André, dedicou-se à Paróquia Cristo Operário, foi diretor espiritual de seminaristas e trabalhou em diversas comunidades. Nos últimos anos, residia na Paróquia Jesus de Nazaré, onde permaneceu até seu falecimento.