Debates abordaram a volta à simplicidade de missões e o testemunho como atrativo vocacional
As conferências desse sábado, dia 16, trouxeram muitas provocações à tona para os Franciscanos Menores Conventuais da América Latina. Logo pela manhã, uma conversa com Lina Boff, professora emérita do departamento de teologia da PUC-Rio, frisou a memória evangelizadora franciscana desde 1946 até 2016.
Ao perpassar cada época, Boff comentou a ação do Espírito Santo sobre a Igreja que a transforma constantemente, “movimenta as águas paradas” e que a “revelação está sempre em andamento. Nós somos a revelação”.
A professora emérita citou ainda a mulher e sua relevância nesse contexto, além de destacar a importância da missão, tendo em mente que, para fazê-la, é preciso ser sempre “uma Igreja em saída, que é hoje a marca da Igreja com Papa Francisco,” e trazer “tanto a Boa nova quanto as obras sociais, pois as duas são necessárias”.
Além disso, foi afirmado que é indispensável fortalecer cada vez mais os testemunhos de vida com o carisma franciscano porque, segundo Boff, é preciso “testemunhar a identidade, aceitar as diferenças em comunidade, sair da acomodação e retomar o caminho”.
A mesma observação foi feita na mesa redonda com a Irmã Clarissa Maria Clara da Trindade, Frei Ilson Fontenele e Frei Carlos Charles, com a moderação de Frei Carlos Trovarelli.
Resumindo a colocação dos religiosos, se faz necessário hoje, para orientar o trabalho franciscano evangelizador, encontrar-se com a misericórdia de Deus, com o ser humano na educação, amor, carinho e espiritualidade, além de reencontrar-se com a origem franciscana.
A discussão da mesa redonda tocou novamente e a fundo no assunto das vocações e como é essencial se posicionar frente às novas gerações e suas culturas.
“A nossa cultura hoje é liquidificada, a juventude é líquida, e muito imediatista. E, nesse contexto, o jovem entra no seminário hoje querendo ser padre amanhã, mas eles não querem viver o processo formativo. O frade formador precisa transmitir o carisma e também vai ter que ir às bases, trabalhar o indivíduo”, falou Frei Fontenele e completou dizendo que “o ensino converte, mas aquilo que o formando vê o arrasta”.
Ao final da atividade, foi apresentada a nova versão da Revista Decires, que antes era impressa e agora passa a ser online. Os acessos já passam de 6 mil e é possível se inscrever no site www.revistadecires.com
Na parte da tarde, os frades se dividiram em grupos de discussão sobre o que foi apresentado durante a manhã. Para enriquecer os debates, estiveram presentes, por todo o dia, jovens da JUFRA (Juventude Franciscana), OFS (Ordem Franciscana Secular) e Fraternidade São Francisco de Assis do RJ.
Para fechar os trabalhos de sábado, houve apresentação cultural de danças tipicamente brasileiras.
Ministério de Reflexão da FALC
O penúltimo dia de Congresso ainda reservou um anúncio importante: a apresentação oficial do novo coordenador do Ministério de Reflexão da FALC (Federação da América Latina para Conventuais).
Depois de dez anos de coordenação de Frei Darío Mazurek, a responsabilidade passa para Frei Rogério Xavier. Ambos se cumprimentaram com a alegria fraterna dando início a um novo período de trabalhos.
Missa de Encerramento
No domingo, a missa de encerramento foi presidida por Dom Elias Manning e concelebrada por Dom João Wilk, além do Ministro Geral da Ordem, Marco Tasca, e dos freis sacerdotes. A celebração eucarística foi uma bela festa junto com o povo da paróquia São Francisco, especialmente porque, neste ano, se comemora também 70 anos da existência daquela comunidade – a primeira do Brasil e da América Latina fundada pelos Franciscanos Menores Conventuais.
Fazendo um paralelo com as leituras da missa, Dom Elias falou sobre a resposta de Deus quando atendemos o seu chamado.
“Deus, 70 anos atrás, estava colocando essa inspiração no coração do ministro geral da Ordem, o próprio papa que na época estava pedindo ajuda para a América Latina, nas províncias espalhadas pela Europa, América do Norte. Esse apelo foi feito e houve generosidade. A Ordem franciscana mandou frades para o Rio Comprido (RJ), para o Brasil, outros países, e o resultado: Deus nos espalhou em 16 países, nos deu em torno de 600 frades. Ele é sempre muito mais generoso do que nós”, declarou o bispo emérito de Valença.
Toda a celebração eucarística foi animada e o povo participou bastante dela. Ao final, entre cumprimentos e despedidas, leigos procuravam registrar cada momento.
Palavra do Ministro Geral, Marco Tasca
Ao final do evento, nos acercamos do ministro Geral da OFMConv. e ele partilhou suas impressões do Congresso.
“A primeira coisa é: recordar os 70 anos é recordar pessoas concretas. Antes recordar as obras e aquilo que fizemos, façamos memória dos nomes e sobrenomes dos frades. A coisa mais bonita desse Congresso: frades que saíram da sua terra: para quê? Partilhar presente do dom da vocação franciscana que Deus lhes fizera. Por isso, muita gente se alegrou com essa presença, puderam encontrar a espiritualidade franciscana, puderam caminhar na via do Evangelho.
Essa foi a primeira coisa do Congresso, o segundo ponto é o encontro do frades no território latino-americano, frades que partilham da mesma paixão pelo Evangelho que os fundadores, mas que hoje se encontram em um mundo diferente, com pessoas com diferentes exigências, em um mundo em contínua transformação. E estarem juntos alguns dias para partilhar essa paixão pelo Evangelho e como anunciá-lo é uma coisa muito bela.
Espero, de modo fundamental, isto: como ordem franciscana conventual, nós temos a necessidade que cada frade dê a sua contribuição a partir da sua compreensão da regra para o enriquecimento do carisma franciscano. Porque se a América Latina não dá a sua contribuição para a compreensão do carisma franciscano, a obra se empobrece”.
Para finalizar, frei Marco Tasca deu depoimento daquilo que levará dentro de si depois de ter vivenciado esses dias. “A primeira coisa que vou levar daqui, desse Congresso, é o método de trabalho dos frades na América Latina. Ouvir, compartilhar, encontrar juntos o caminho. O método de trabalho que encontro na América Latina e que é muito bonito, também trarei no coração a beleza de reencontrar os meus confrades, estar com eles, me alegrar com eles, coisas muito cotidianas e muito simples, que expressam a beleza de estarmos juntos”.