Diocese de Santo André

Homilia – Ordenação – Solenidade N.S. do Carmo

Ordenação Presbiteral de William Mariotto e Adriano Pereira

São Bernardo do Campo, 16 de julho 2016

Introdução

Na alegria de celebrarmos nossa fé saúdo a todos os irmãos e irmãs no santo batismo. Saúdo os padres, diáconos, religiosos (as), seminaristas, entre eles os diáconos Adriano e William, que hoje serão tocados de modo especial pela graça do Senhor Jesus o Servo de Javé. Saúdo os pais do Diac. Adriano e seus irmãos e irmãs; a mãe do Diac. William e sua irmã. Prezados irmãos e irmãs:

Hoje é festa de Maria, Nossa Senhora do Carmo, celebrada com carinho em nossa igreja Catedral. Festa da mãe é festa dos filhos. Ela é nossa intercessora, é a “onipotência suplicante”, porque encontrou graça diante do rei, o qual se encantou com a sua beleza (Sl 44) e a associou à obra da redenção: Maria é mãe do Filho de Deus! Qual é a beleza de Maria? Sabemos que Deus não olha o exterior, mas o coração. São suas virtudes que agradam a Deus. A maior virtude de Maria, a que mais encanta a Deus não é sua total disponibilidade: “Eis aqui a serva do senhor, faça-se a tua vontade”. Depois disto vem a humildade: “olhou para a pequenês de sua serva e fez em mim grandes coisas”.

O Diac. William escolheu como lema de sua ordenação: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus Vivo” (Mt 16, 16). Esta é a profissão de fé do apóstolo Pedro. Mas antes dele é a profissão de fé de Maria no dia que o anjo lhe pediu da parte de Deus, que aceitasse ser a mãe o “filho do Altíssimo”. E esta profissão de fé ela viveu na prática do seu dia a dia, perseverando na pobreza de Belém até o martírio de seu Filho na cruz. A fé não é uma questão abstrata, mas se define na prática do dia a dia da vida. O Diácono Adriano escolheu como lema: “Tendo amado os seus, amou-os até o fim” (Jo 13,1). O amor é o único modo de viver a fé e Maria foi a que mais amou Jesus, por isso ela é exemplo para nós.

A partir de Maria gostaria de falar ao Adriano e William com duas mensagens que servem também para todos nós.

  1. Primeiro: a Disponibilidade!

Vocês estão para entrar em um caminho sem volta, o caminho da graça do sacramento da Ordem que livremente receberão hoje no seu segundo grau. Ordem que é em tudo, e sobretudo serviço, doação, entrega. Comecem com o passo certo, imitando Maria. Não entrem pela vereda equivocada de conceber o dom que irão receber, pela ótica do sacerdócio levítico do Antigo Testamento. O sacerdócio levítico é direito, reivindicação, status, enriquecimento, profissão, autopromoção, carreirismo que gera competição, desunião e por fim frustração. Jesus é o “bom Pastor”, como ouvistes no Evangelho (Jo 10,11s), ele não é mercenário. Não recebam o sacramento da Ordem a não ser para serem bons pastores sem visar o proveito próprio.

Entrem pela vereda do sacerdócio de Jesus Cristo que é dom, disponibilidade, entrega, serviço humilde e desinteressado que busca o último lugar procurando estar junto aos últimos. “O Senhor me ungiu e enviou para evangelizar os pobres, curar as feridas da alma, pregar a redenção e anunciar a liberdade...”(Is 61, 1). Jesus na sinagoga de Nazaré fará seu este itinerário de vida do livro do profeta Isaías. Eis-nos aqui Senhor, envia-nos para sermos bons pastores, imagem vossa diante de vosso povo, onde mandar iremos, apoiados na vossa graça que nos basta!

Esta foi a vida de Maria desde o momento em que através do Arcanjo Gabriel, Deus lhe pediu que mudasse seu projeto de vida… E ela disse seu sim verdadeiro, total, sem reservas, sem impor condições e nem fazer reivindicações. Maria é pobre no meio dos pobres. Mãe do filho de Deus, ela tem muitos direitos, mas não reivindica nenhum, como o fará Jesus!

A disponibilidade, a exemplo de Maria, fará com que vocês identifiquem a vontade de Deus, percebam os sinais do Reino, fará com que sejam felizes. Somente quem é disponível a Deus encontra o amor verdadeiro, amor que é realidade da pessoa humana que nunca desaparece. Na morte o ser humano deixa tudo, somente uma coisa permanece, o amor, porque Deus é amor. Quem viveu no amor estará para sempre com o Amor.

A disponibilidade é a mãe da humildade. Tenham portanto, disponibilidade, esta é a primeira bem-aventurança, a dos pobres, os que estão totalmente entregues a Deus. Sem esta atitude, não existem as outras que possam agradar a Deus. Só na disponibilidade é que se pode viver o celibato por amor ao Reino de Deus. Com a força do Espírito Santo vocês conseguirão vive-lo com alegria e certeza. Permitam-me citar aqui, a respeito da disponibilidade no pastoreio, o bispo Santo Agostinho, ele escreve o seguinte: “Seja serviço de amor apascentar o rebanho do Senhor. Quem apascenta as ovelhas de Cristo como se fossem suas, não ama a Cristo, mas a si mesmo. (…) Os que apascentam as ovelhas de Cristo, não amem a si mesmos; não as apascentem como sendo próprias, mas como pertencentes a Cristo. O defeito que mais devem evitar os que apascentam as ovelhas de Cristo, consiste em procurar os próprios interesses e não os de Cristo, destinando ao proveito próprio aqueles por quem Cristo derramou o seu sangue” (cf. Trat. Ev. Ioan. 123; 5: CCL 36, 678-680).

Assumam a vocação como missão e não como profissão, sejam generoso, perseverem até o fim! Ele estará convosco, e vos dará a coroa da vida eterna. Não tenham medo de nada que vos ameace para tirar-vos do caminho que hoje escolhestes, pois, tudo o que não serve para construir o Reino de Deus não tem futuro. Façam hoje diante de Deus e da Igreja o propósito de terem uma vida sacerdotal ética, correta. Que vocês não façam do ministério um meio de vida para ganhar dinheiro e poder. Isto “da azar”! Deus pedirá conta aos mercenários na hora da morte!(cf. Mt 25,9)

  1. Segundo: a Vontade de Deus.

“Eis que venho o Deus para fazer a tua vontade” (Hb 10,9)! Que vocês possam meus queridos filhos desejar a santidade. Não se contentem com menos que a santidade, pois o Apóstolo escreve: “a vontade de Deus é a vossa santificação” (1Ts 4,3). É preciso querer e tudo fazer para ser santo, esta é a vocação de todos os batizados, mas para o padre mais que vocação é um dever. Santidade é união com Deus, é viver o ordinário da vida de forma extraordinária. É preciso serem padres santos de verdade, e não proficionais do culto.

Percebe-se a santidade pelo seu perfume que é a vivência da honestidade, da misericórdia e da unidade. “Sede misericordiosos como vosso Pai do céu é misericordioso” (Lc 6,36). Lucas coloca a misericórdia no lugar da perfeição do Pai no Evangelho de Mateus. Só a misericórdia é capaz de gerar o perdão e a unidade. Que entrando para fazer parte de nosso presbitério, vocês possam se comprometer como homens maduros, a criar unidade, mesmo que isto custe sacrifício e renúncia. A vontade do Pai é “que todos sejam um” (Jo 17,21).

O cumprimento da vontade de Deus é a máxima da vida santa, procurem fazer isso, e aceitar a manifestação da vontade de Deus nos acontecimentos e circunstâncias corriqueiras da vida e sobretudo na obediência (sem murmuração) a quem prometeram obediência. A ideia de autonomia do sujeito e o modo individualista de ser de nossa sociedade, suspeita de toda autoridade. Quem tem fé sabe que “a chave da desobediência de Adão abriu as portas do inferno e a chave da obediência de Cristo abriu as portas do Paraiso” (Santa Catarina de Sena). Somente quem tem fé tem força para obedecer, sejam homens de fé e de palavra dada e honrada!

Hoje vocês serão revestidos da autoridade de Cristo, sejam dignos dela e saibam também obedecer porque quem não sabe obedecer não sabe agradar a Cristo que se fez obediente por amor. “Quem faz a vontade de Deus, porque O ama, faz virtualmente todas as coisas. Quem faz a vontade de Deus, ainda que ore, prega; ainda que ande em negócios, ora; ainda que esteja entrevado, anda em negócios; confessando estuda, estudando faz missões, andando em missões serve na cozinha, servindo na cozinha converte almas. E não pode deixar de ser assim, porque a vontade de Deus, com a qual está unido, é tudo, e tudo, fora da vontade de Deus é nada” (Pe. Manuel Bernardes in Luz e Calor).

Não importa, portanto o lugar onde vocês estão ou a função que ocupam, a medida é o coração voltado para o cumprimento da vontade de Deus, sem ambição ou exigência. Saibam que não estão sendo ordenados para uma paróquia, mas para toda a Diocese. Não estão destinados a uma paróquia específica em especial as paróquias mais ricas, mas estão destinados a servir a Igreja onde se fizer necessário. Quem ama a Deus de verdade presta atenção mais nos seus deveres do que nos seus direitos; sabendo que Deus cuida dos direitos daqueles que cuidam do seu Reino em primeiro lugar. De fato no entardecer de nossa vida, seremos julgados pelo amor, e também pelo cumprimento de nossas promessas feitas a Deus. Cumpram então a promessa de serem bons pastores que farão hoje, é um juramento, o qual só pode ser vivido em plenitude, por quem tem vida de oração como o teve Maria Santíssima.

Conclusão

Concluindo, lembro as palavras do papa Francisco ao episcopado brasileiro sobre os presbíteros: “Precisamos pessoas capazes de descer na noite sem ser invadidas pela escuridão e perder-se; capazes de ouvir a ilusão de muitos, sem se deixar seduzir, capazes de acolher as desilusões, sem se desesperar nem precipitar na amargura, capazes de tocar a desintegração alheia, sem deixar dissolver e decompor na sua própria identidade”.

Prezados Adriano e William, nossa Igreja se alegra com a decisão de vocês, alegra-se pelo vosso sim sincero e confiante; que seja um sim definitivo e praticado de verdade na disponibilidade para cumprir a vontade de Deus como o fez Maria, a mãe de Jesus. É preciso agradecer a Jesus pelo chamado ao ministério que Ele fez a vocês através da Igreja que devem amar de verdade. Quem ama Cristo que é a cabeça deve amar a Igreja que é seu corpo.

Uno-me a vocês na minha ação de graças pelos primeiro ano de meu ministério episcopal entre vocês que completo este mês. Vocês estão iniciando, com um belo amanhecer, eu vou concluindo no entardecer de maus 39 anos de diácono, 38 de presbítero e 06 de bispo. Agradeço o Senhor por ter vivido intensamente meu ministério, percebi cedo que não basta somente ter vocação e dizer sim! É preciso viver de verdade, sem pensar em si, mas na causa à qual nos consagramos: o Reino de Deus, a Igreja de Jesus, o serviço ao próximo.

Prezados irmãos e irmãs que participam desta celebração, bendigamos a Deus por Maria de Nazaré, Mãe de Deus e nossa. Bendigamos porque Deus continua chamando jovens ao ministério presbiteral e eles dizem seu sim generoso, se prepararam com sacrifício e chegam a este dia maravilhoso que é o dia da ordenação sacerdotal, como fazem hoje o Adriano e o William. Vocês são filhos da comunidade, filhos da nossa Igreja de Santo André. Nossa Igreja está feliz com vocês, que vocês nunca a façam chorar nem de vergonha nem de tristeza! Nossa Igreja através do seu Presbitério vos acolhe e abraça!

Que surjam outros jovens desejosos de se entregar a Jesus no serviço ministerial.

Sejamos todos abençoados em nome de Jesus. Amém.

+DOM PEDRO CARLOS CIPOLLINI

Bispo Diocesano de Santo André

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