Diocese de Santo André

Homilia: Dom Pedro Carlos Cipollini – Missa de Abertura da Visita Pastoral Missionária à Região Utinga

Irmãos e irmãs, neste momento todos somos convidados pela Palavra de Deus a deixar que ela entre em nosso coração. Prezados padres, diáconos, seminaristas, ministros, todos vocês aqui reunidos, que vieram para celebrar a Festa de Santa Teresinha, Padroeira desta comunidade paroquial, e também para darmos início a esta Visita Pastoral Missionária. Na alegria da nossa fé estamos aqui, dizendo o nosso sim! Fomos convidados pelo nosso coração, porque só o amor de Cristo é que pode nos reunir assim como estamos. Dissemos no início da Santa Missa: este amor misericordioso – nós confiamos nele! E Deus também confia em nós!

A Palavra de Deus que nós ouvimos, na Primeira Leitura fala de Jó, um homem bom, que sofreu muito. Ele era rico, poderoso, mas Deus foi submetendo este homem à prova, para ver se sua fé era autêntica; ele foi ficando pobre e, no fim, ficou doente, mas não deixou a sua fé em Deus. Mesmo no meio da sua miséria, sofrimento, pobreza, ele continuou dizendo: “não estou entendo nada, mas eu sei que Deus é bom! A minha vida não está sendo, como todo mundo diz, uma vida de quem serve a Deus” (porque na época de Jó, naquela teologia da retribuição, diziam que, com quem era bom para Deus, Deus também era bom, mas com quem não fosse bom, Deus não seria bom). E Jó sempre foi bom, obediente, devoto. E dizia: “Então, por que eu estou sendo castigado?”. Mas ele vai entender que Deus o estava purificando, porque o amava e o queria mais perto de si. Foi uma experiência dolorosa, difícil, mas que frutificou num amor maior, simbolizado pela restituição de todos os seus bens, que ele, depois de passar por esse túnel escuro da dor, do abandono, recupera em sua totalidade.

E isso o que nos lembra? A promessa de Jesus no Evangelho. Jesus, no Evangelho, fez muitas promessas – talvez nós não estejamos atentos a isso… Jesus disse: “Quem se humilha será exaltado”, e nós podemos ver isso na vida de Santa Teresinha, Padroeira das Missões. Ela fez um caminho de humildade, sempre procurando o mais humilde, o último lugar, o mais simples, o mais sacrificado… Por amor a Deus. Foi um caminho difícil para ela, não foi menos difícil do que para Jó; mas ela foi seguindo a inspiração da graça de Deus no seu coração, a inspiração do Evangelho – que ela lia incessantemente -, e fez do Evangelho o seu diretor espiritual. Interessante que praticamente todos os santos têm um diretor espiritual; ela não teve. O diretor espiritual dela foi o Evangelho, que lia constantemente e trazia consigo. E foi nele que ela aprendeu o caminho de Jesus, chamado “o caminho da pequena via”: não grandes coisas, mas santificar o dia a dia – o que foi extraordinário na vida dela! É que ela fez as coisas mais simples de uma forma extraordinária. As coisas mais ordinárias podem ser vividas de uma forma extraordinária quando vividas com amor, e isso todos podemos fazer.

E como ela tinha um desejo muito grande de ser missionária, de andar pelo mundo anunciando Jesus, que ela tanto amava, ela foi proclamada Padroeira das Missões. E o Evangelho nos fala dos apóstolos missionários, dos discípulos missionários que saem para pregar o Evangelho. O Evangelho é a contribuição maior da Igreja para a libertação do ser humano, como diz o texto: “Pregava o Evangelho para livrar as pessoas do maligno”, do mal, de todo tipo de situação que diminui o ser humano, filho de Deus, fazendo dele alguém que vive longe de Deus, na miséria do pecado, da divisão, do ódio, de tudo aquilo que nós sabemos que é ruim. Mas para ser um missionário é preciso ter esse coração simples, pobre, humilde. Por isso Jesus nos diz: “Eu te bendigo, ó Pai, porque revelastes estas coisas aos pequenos; não aos sábios e entendidos, mas aos pequenos”.  Quem se faz pequeno, simples, humilde, cultivando sua fé no dia a dia, este vai entender os desígnios de Deus e vai ser apto a ser bom missionário, uma boa missionária de Deus. Porque fazendo esse caminho você vai conhecer quem é Deus, dentro daquilo que é possível para nós.

Assim Jó, no meio do seu sofrimento, preservando a fé, fez uma experiência de Deus. Assim Santa Teresinha também, no seu rebaixamento, na sua busca de imitar Jesus – pobre de Nazaré, simples – vai descobrir o amor de Deus, esse amor misericordioso; e, portanto, tornar-se-á capaz de anunciá-Lo, de pregá-Lo.  O que não fez durante a sua vida, ela faz depois de morta, porque os escritos dela – dois caderninhos de autobiografia, que ela escreveu por obediência, porque a madre mandou que escrevesse – giraram o mundo e colocaram a sua espiritualidade nas mãos de muitas pessoas que, tomando conhecimento, despertaram-se para a vivência deste Evangelho, deste “pequeno caminho”, que é o caminho que fez Jesus: sendo Deus, se fez homem; sendo homem, ocupou o último lugar, a cruz, para nos redimir. Por isso Deus O exaltou, O elevou, deu-Lhe um novo nome e, diante Dele, todos os joelhos se dobram.

Quem se humilha será exaltado; quem se faz pequeno por amor a Deus, sendo capaz de renunciar seus próprios projetos para assumir os projetos de Deus na sua vida – quem sabe deixar de lado aquilo que é supérfluo (o que às vezes nos custa muito) para apegar-se ao essencial… Quem vai fazendo esse caminho vai chegando mais pertinho de Deus, como Santa Teresinha chegou. E nós fomos convidados a fazer este caminho. Santa Teresinha foi declarada Doutora da Igreja – o que quer dizer isso? Que esta sabedoria que Deus deu para ela, na sua humildade, serve para a Igreja inteira, para todos os cristãos, de todos os tempos, como uma referência na prática do Evangelho.

Queridos irmãos e irmãs, muito significativo que neste dia de Santa Teresinha, Padroeira desta comunidade paroquial, nós estejamos iniciando esta missão aqui na Região Utinga. Nossa Diocese tem 10 regiões, todas grandes, com bastantes paróquias. E, graças a Deus, nosso povo participa. Mas também não podemos ficar muito iludidos que, só porque nossas igrejas estão cheias, todos são católicos. Muita gente precisa ainda descobrir Jesus, ama-Lo, servi-Lo. E a missão é urgente para nós!

O Papa Francisco não se cansa de repetir: “Uma Igreja em saída; uma Igreja missionária; uma Igreja que acolhe; uma Igreja que não se acomoda; uma Igreja que não fica parada”.  Esta Visita Pastoral Missionária quer soprar as cinzas e fazer brilhar as brasas deste amor de Deus que está em nosso coração – eu tenho certeza que está, porque o Espírito Santo é quem acende esta brasa, este fogo no coração de todos! Mas, muitas vezes, isso fica escondido, fica parado; ou falta liderança para acender o fogo e soprar as cinzas, ou falta boa-vontade, tempo, tanta coisa… Mas o Espírito Santo está presente! Ele vem nos animar, Ele vem nos impulsionar, Ele vem nos dizer: “Jesus espera que você seja alguém que O siga, que O ajude na missão!”. A missão de Jesus continua na Igreja. A Igreja não tem uma missão “dela”; ela tem a missão de Jesus. Jesus pregou o Reino de Deus, e a missão da Igreja é anunciar o Evangelho do Reino de Deus.

Portanto, Jesus conta com você! Você que é batizado, você que é batizada. E a Visita Pastoral é justamente o momento de refletirmos tudo isso. Só que Jesus conta com você não só pessoalmente, a tua pessoa; mas conta com você dentro de uma comunidade. Porque a missão evangelizadora não é de um por um, cada um por si; é de toda a Igreja unida, em uma pastoral organizada, em conjunto, para que os objetivos da evangelização não sejam dispersos. Até Jesus organizou os apóstolos – lá no Evangelho tem as instruções missionárias que Jesus dá. Ele diz assim: “Vão de dois em dois, vão de casa em casa; quem os receber, vocês desejem a paz; não levem muita coisa pelo caminho…”. Tudo isso foram instruções missionárias para organizar a missão dos apóstolos.

Então, nós também preparamos esta missão. A nossa Igreja tem um plano de pastoral, em que nós vamos trabalhando juntos, em conjunto, porque Deus é assim: gosta de tudo o que nós fazemos juntos – tanto é que vocês lembram qual foi a oração de Jesus antes da Sua morte, na última ceia? “Pai, que todos sejam um, como nós somos um!”. Então, a unidade, a comunhão é que faz a missão! Quando tem verdadeira comunhão na comunidade, ela se torna missionária; quando não tem verdadeira comunhão, ela se acomoda. Por isso queremos ser uma Igreja de comunhão missionária, aquela comunhão entre nós e Jesus, que nos impulsiona a sermos missionários e missionárias do Reino de Deus.

Está aqui também a Infância Missionária! E é bom que desde pequeninos tenhamos esta consciência de que a Igreja é missionária por sua natureza, como diz o Concílio Vaticano II.

A nossa Igreja não pode ser como um supermercado, onde tem produtos religiosos que cada um se serve e a Igreja vai suprindo ao passo que vão levando. Não! Nós temos que ser uma Igreja que anuncia, que vai levar o “produto”, que vai “fazer a entrega”, que vai fazer a “propaganda do produto”. E o maior “produto” que a Igreja tem é Jesus – Caminho, Verdade e Vida! Portanto, somos todos convocados pelo Espírito Santo, não pelo Bispo. O Bispo é servidor do Espírito de Deus, que o escolheu e colocou à frente da Igreja como o primeiro que serve. Mas é para atender ao apelo do Espírito Santo que o Bispo se expressa para sermos uma Igreja cada vez mais viva, levando avante os valores – que já são muitos. É devido a isso o fato de estarmos aqui, o zelo dos padres, o trabalho, o empenho…

Que nós possamos nos unir e levar tudo isso avante, com mais ardor missionário, renovado com a graça de Deus. Que assim seja, amém!

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