QUINTA FEIRA SANTA – 13/04/2017
+ Dom Pedro Carlos Cipollini – Bispo de Santo André
Prezados presbíteros, diáconos, religiosos, religiosas, seminaristas, irmãos e irmãs no santo batismo. Estamos reunidos para celebrar esta Eucaristia, na qual vamos consagrar o óleo do crisma, benzer os óleos do batismo e dos enfermos. Saúdo e acolho a todos em nome de Jesus. Nesta celebração, mais que em outras, a Igreja quer manifestar a comunhão dos presbíteros e de toda a Igreja Particular entre si e com seu Bispo.
Nas celebrações do Tríduo Pascal, torna-se presente e atuante, pela ação permanente de Jesus Cristo e do Espírito Santo, a misericórdia do Pai. Celebrando, temos renovado em nós o dom da vida divina. Esta é a capacidade que nos foi dada de entrar, pelo batismo, no dinamismo do amor trinitário. Na liturgia que celebramos podemos encontrar-nos com o Cristo que vive, e nos comunica a energia transformadora de seu amor.
A Palavra de Deus que acabamos de ouvir, deve ser compreendida na perspectiva de que, em Jesus, o Pai criador recria todas as coisas. Com Jesus começa um mundo novo, o mundo da graça no qual o pecado é derrotado. Ele veio proclamar o “ano da graça”, ano que não tem fim, porque através dele a graça de Deus triunfa. Por isso Jesus é ungido pelo Pai e enviado com a missão de refazer todas as coisas. Em Cristo somos novas criaturas! Pelo batismo e a unção crismal somos chamados, como Povo de Deus, a colaborar na obra da redenção, como discípulos missionários.
A missão de Jesus é a missão de “anunciar a boa-nova aos pobres, proclamar a libertação aos cativos, restituir a vista aos cegos e libertar os oprimidos” (Lc 4,18-19). Neste momento de crise que vivemos e que penaliza em especial os mais pobres, somos chamados a sintonizar nossa ação evangelizadora na perspectiva da missão libertadora de Jesus. Para que isto aconteça devemos anunciar profeticamente a justiça do Reino.
A Igreja é um povo sacerdotal porque todos, pelo batismo, em igual dignidade, temos a missão de seguir Jesus Cristo, construindo este mundo novo que Ele anunciou e iniciou. Na Igreja existe o sacerdócio ministerial. São os bispos e presbíteros, que recebem o sacramento da ordem, para exercerem um “ofício de amor” (amoris officium) em favor do povo de Deus (cf. S. Agostinho in Ioh. Ev. 123,5: PL 35,1967). Diz S. Clemente Romano: “O Pai enviou Cristo, Cristo enviou os apóstolos e estes constituíram presbíteros nas comunidades” (cf. Carta aos cor. n. 44). A vocação de cada presbítero é uma vocação que brota do coração de Deus, não é um projeto pessoal em primeiro lugar, mas um projeto de Deus, e como tal deve ser vivido: na gratidão e na entrega.
Nesta celebração da missa crismal, manifesta-se o mistério do sacerdócio de Cristo, participado de modo especial pelos ministros ordenados, constituídos em nossa Igreja. Os presbíteros realizam a unidade do seu sacerdócio no único grande sacerdote que é Jesus Cristo. Todos nós, bispos e presbíteros somos os “servidores do Mistério”.
Hoje os presbíteros renovam seu compromisso ao serviço deste Mistério em benefício do Povo de Deus. Foram ungidos por Deus como profetas, sacerdotes e pastores, servidores do Evangelho. São homens da compaixão para com os que sofrem (por isso iremos abençoar o óleo dos enfermos, para serem ungidos pelos presbíteros).
Quero agradecer a Deus pelo presbitério da Diocese de Santo André. Sabemos das dificuldades e desafios que devem enfrentar todos os dias, para perseverar na vocação e exercer a missão que vos foi confiada. Quero estar perto de cada um de vocês na verdade e na caridade, como pastor e pai. Permitam-me lembrar com o papa Bento XVI que “o sacerdote nunca deve colocar em primeiro plano a sua pessoa nem suas opiniões, mas Jesus Cristo” (in SacrC n 23). Como dócil instrumento nas mãos do Bom Pastor, o sacerdote vai apontar sempre para Ele. Por isto o sacerdote é homem de oração.
É impossível um sacerdote se manter firme sem a oração, é impossível que seu trabalho dê frutos bons sem a oração. A própria Igreja pode viver sem obras, mas não sem oração, porque a oração é a respiração da Igreja. É também a respiração da vida sacerdotal. Com isto exorto para que possam cultivar uma robusta espiritualidade. A vida espiritual cultivada aumenta nossa generosidade e não deixa perder o foco. Ela dá a força interior de que precisamos.
Permitam-me mais uma vez pedir-vos para trabalharmos pela unidade do presbitério. Isto é algo que estamos sempre aprendendo. A relação do presbítero com o Presbitério deve ser como a relação matrimonial. Na ordenação e no dia a dia, cada padre, e todo o presbitério, deve dizer reciprocamente: “Sou teu na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, amando-te e respeitando-te todos os dias de minha vida” (cf. in Estudos da CNBB/n. 88, p.135s).
Cada padre deve ter claro que no dia da ordenação sacerdotal foi chamado a ser presbítero, a integrar um grupo, a fazer parte da “família presbiteral”. No dia da ordenação, começou a correr nas veias do novo padre o sangue do presbitério. Cultivemos o sentido da pertença a este Presbitério Tal é a importância desta nova família que traz ao presbítero o dever da corresponsabilidade por tudo que se refere ao presbitério. Nós não escolhemos os irmãos do presbitério, é Deus que escolhe e nos dá estes irmãos. Vamos nos aceitar como dom que Deus faz de um para o outro.
Vamos nos empenhar sempre mais no projeto de evangelização, que se articula por meio de nossas pastorais em vários níveis. Vamos assumir e viver com alegria nosso Sínodo Diocesano. Vamos trabalhar com os leigos e leigas em união e fraternidade.
Peço a todo o povo de Deus que reze pelos padres e lhes dê apoio em seu ministério. Peço de modo especial que todos nós oremos pelas vocações sacerdotais e nos comprometamos com a promoção vocacional em nossa Diocese.
Recordemos diante do altar do Senhor neste dia, nossos irmãos presbíteros que já estão na casa do Pai! A eles nossa gratidão!
Que assim Deus nos ajude! Amém.