19 maio de 2017
Dom Pedro Carlos Cipollini – Bispo de Santo André
Excelentíssimos Senhores e Senhoras, minhas saudações e agradecimentos, por me receberam aqui hoje e poder manter contato com esta casa, cuja importância em nossa sociedade é desnecessário recordar.
Saúdo a todos e cada um, saúdo de uma maneira especial a Meritíssima Juíza Diretora deste Fórum Dra. Milena Dias, na pessoa da qual, saúdo todos os demais magistrados que atuam neste Fórum. Fórum que é a instituição que se ocupa da árdua tarefa de fazer justiça.
Todos nós sabemos que onde não há justiça não há liberdade e onde não há liberdade não há justiça. Sabemos também que a justiça é a base de apoio do mundo; e a injustiça, pelo contrário, a origem e fonte de todas as calamidades que o afligem. Na Bíblia Sagrada está escrito: “Quem semeia a justiça tem paga segura, pois a justiça leva à vida” (Pv 11, 19-20).
Ilustres senhores e senhoras, permitam-me, como religioso, recordar aqui a palavra de Jesus Cristo no Evangelho que exorta-nos: “Buscai primeiro o Reino de Deus e sua justiça”(Mt 6,33). Trata-se neste texto, num sentido transcendente, do plano de Deus para a Humanidade reconciliada no amor. Por isso, a busca cristã da justiça é uma exigência do ensinamento de Jesus. A ação em favor da justiça e a participação na transformação do mundo, aparecem-nos claramente como uma dimensão constitutiva da missão evangelizadora da Igreja.
Constatada a desordem ou injustiça da sociedade, os cristãos não se preocupam apenas em resolver alguns problemas concretos de nosso momento histórico, mas tentam mostrar a existência de um plano divino, e a necessidade de restaurar a harmonia que Deus planejou para a humanidade e que foi rompida pelo pecado, o qual tirou a paz da humanidade. Paz que é num dos maiores desejos da humanidade.
A paz é obra da justiça. A paz supõe e exige a instauração de uma ordem justa na qual os seres humanos podem realizar-se como pessoas, onde sua dignidade seja respeitada, suas legitimas aspirações satisfeitas, seu acesso à verdade reconhecido, sua liberdade pessoal garantida. Uma ordem na qual os homens não sejam objetos, senão agentes de sua própria história. Onde existem desigualdades acentuadas e injustas entre os homens e nações, se atenta contra a paz (cf. Medellín 2,14).
Na perspectiva cristã a justiça é um princípio integrador de toda a humanidade, no único plano de Deus. Não devemos, porém, ignorar os inúmeros obstáculos que a pessoa enfrenta na procura por uma ordem mais justa. Um dos primeiros obstáculos é a negação do próprio Deus. A falta de crença em Deus dificulta a busca da justiça: – “O que se tornaria o homem sem Deus e a imortalidade? Tudo seria permitido, tudo seria lícito?” – , indaga um dos personagens de Dostoievski em seu romance mais conhecido. A fé em Deus, faz com que a justiça não seja somente feita de forma coercitiva e na base do medo, mas sim com base na convicção da sacralidade da própria justiça como um atributo divino que nós devemos imitar e promover.
Desde os tempos do Papa Leão XIII e da sua encíclica Rerum Novarum, o tema da justiça social inspirada nos santos padres da Igreja, ocupou lugar de destaque nos documentos da Igreja. Porém, o princípio mais revolucionário é o princípio da “destinação universal dos bens”, que podemos enunciar desta forma: “Deus destinou a terra com tudo o que ela contém para uso de todos os homens e povos, de modo quer os bens criados devem chegar equitativamente as mãos de todos, segundo a justiça ajudada pela caridade”. O destino universal dos bens exige a solidariedade com as gerações presentes e futuras, em um mundo globalizado que estabeleceu a justiça como uma ilha em um mar de injustiças.
A dificuldade na distribuição da justiça muitas vezes impossibilita que ela chegue a todos, e que as condenações sejam revestidas de humanidade, discrição e misericórdia, dado que a misericórdia é a coroa da justiça.
Senhores e senhoras, quero ser porta voz, se me permitem, da gratidão de nosso povo sofrido, quando a justiça contempla os mais fracos e pobres que são as vítimas primeiras, e por que não consequência, da injustiça.
Termino recordando uma frase do grande brasileiro que foi Rui Barbosa, exímio conhecedor dos meandros da justiça. Ele escreveu algo que se reveste de uma atualidade toda especial: “Não há nada mais relevante para a vida social que a formação do sentimento de justiça”.
Muito obrigado!