Fui como peregrino a Fátima (Portugal) para celebrar quarenta anos de serviço sacerdotal a Jesus.
A acolhida dos portugueses aos peregrinos é muito cordial e torna melhor a estadia. Logo na chegada destaca-se a torre da basílica no fundo da enorme praça na qual do lado esquerdo se encontra a capelinha das aparições, no exato local onde os três pastorinhas tiveram seu encontro com a mãe de Jesus.
Na frente da capelinha o nicho de vidro com a imagem de nossa senhora sinaliza o local onde estava a azinheira sobre a qual as crianças viram Nossa Senhora e falaram com ela. Tudo aconteceu entre maio e outubro de 1917. Corria solta a primeira guerra mundial e quatro dias após a última aparição a revolução comunista explodiria na Rússia, com seu rastro de violência e ateísmo. Antes de seu início, Nossa Senhora já prediz aos pastorinhos a falência do socialismo ateu cuja derrocada aconteceu em 1989 com a queda do muro de Berlim (Alemanha).
As crises que antecederam este acontecimento foram muitas e marcantes. O mundo passou por outra guerra, mudou muito. Enfim o que dizem os acontecimentos de Fátima? Para compreender um pouco é preciso conhecer a história das três crianças e o ambiente onde eles viveram. Tive oportunidade de visitar o lugarejo de Aljustrel onde ainda se conservam as casas onde moravam. Jacinto, que morreu alguns anos após as aparições, e sua irmã Lucia, que se tornou carmelita e morreu com 98 anos. Eram primas de Francisco, que também morreu alguns anos após as aparições. Este local e os arredores desta aldeia ainda transmitem, de certo modo, o clima da época.
Pude conversar com uma sobrinha de Lucia e Jacinta, já bastante idosa que mora há mais de noventa anos na casa vizinha à de Lucia. Na conversa o que dizia repetidas vezes era: “Devemos confiar em Deus. Tudo o que ele faz é bom”. Penso que a mensagem final de Fátima é esta. A História está nas mãos de Deus. Ele é o Senhor e, tudo o que sua providência dispõe é bom, é para nosso bem. O apelo de Nossa Senhora à conversão, penitência e oração é um modo de se preparar para viver uma fé adulta na qual se confia totalmente em Deus e na sua providência. Esta fé simples e total não é nada fácil em nossa época dominada pela tecnocracia que aos poucos substitui a fé em Deus pela eficiência das máquinas fabricada pelo homem.
Fátima é um alerta para que a humanidade não se esqueça de Deus. Do contrário estará ameaçada pelas graves consequências deste esquecimento: sua autodestruição. Rezei missa no local das aparições e pedi a Deus por nossa Diocese de Santo André que tem quatro paróquias de Nossa Senhora de Fátima e neste ano a treze de maio instalará mais uma em Ribeirão Pires. Que a Virgem de Fátima interceda por nós a fim de levarmos a sério a Palavra de Deus e deste modo vivermos em uma sociedade onde haja paz fruto da fé em Deus que é bom e justo.
Artigo escrito por Dom Pedro Carlos Cipollini para o jornal Diário do Grande Abc