Lendo aqui no Diário a reportagem sobre mulheres benzedeiras que ainda subsistem em nosso meio, recordei-me de Nhá Chica, hoje já bem conhecida no Brasil após sua beatificação ocorrida em 4 de maio de 2013.
Viajando pelo interior de Minas Gerais, cheguei a Baependi. Cidade antiga, encarapitada na encosta de uma colina, como soe acontecer no mar de morros que é Minas Gerais. Ali tomei conhecimento da existência de Nhá Chica, nome com o qual passou a ser conhecida Francisca de Paula de Jesus.
Nasceu em 1810 em S. João Del Rei, veio para Baependi com dez anos mais um irmão e a mãe. Morrendo a mãe e tendo o irmão se arrumado, a jovem resolveu seguir o conselho da mãe: viver para a oração e a caridade. Recusando propostas de casamento, morou a vida toda em casa modesta que ainda hoje se conserva. Aí dedicou totalmente a fazer a todos, todo o bem possível.
Devota de Nossa Senhora da Conceição, viveu vida de oração, baseada na sua grande fé. Era analfabeta, mas procurou quem pudesse ler-lhe os Evangelhos. Modesta, virtuosa, foi reconhecida como o anjo da cidade, gozando de apreço e simpatia de todas as camadas populares. Mulher pobre, mas rica de fé. Fé que agia através da caridade. Era a mãe dos pobres.
Nhá Chica, ficou famosa em toda a região. Era procurada por pessoas que lhe pediam oração ou uma palavra de conforto e esperança, uma bênção. Através dela Deus operava milagres. Com o passar do tempo vinham pessoas consultá-la. Despida da ciência das escolas, tinha em alto grau a sabedoria de Deus. Pessoas instruídas, até mesmo titulares do Império, iam ouvir suas opiniões sempre ajuizadas.
Um médico e livre pensador, Dr. Henrique Monat, deixou publicada uma entrevista que teve com Nhá Chica, segundo ele “uma celebridade em todo o sul de Minas” na época. Faleceu aos oitenta e dois anos, foi sepultada, depois de cinco dias de velório com grande afluência do povo, na Capela que havia construído. Esta capela é hoje o santuário visitado por pessoas do Brasil todo.
Em 1846 a princesa Isabel visitou Baependi e foi protagonista de festividades esplêndidas. Hoje, nada na cidade lembra este fato, nem mesmo uma placa. No entanto, a cidade deixa transpirar o suave perfume desta mulher, que os bispos do sul de Minas propuseram ao Vaticano como candidata aos altares.
Nhá Chica, era clarividente, deixa-nos o testemunho do valor da oração. Jesus diz que é necessário orar sempre e que a oração remove montanhas. A oração bem feita não só nos aproxima de Deus, mas é fonte de equilíbrio porque nos revela a nós mesmos.
Deixa-nos também o testemunho do valor da caridade como realização pessoal. Ao ajudarmos os outros, podemos concluir que, muito mais ajudamos a nós mesmos. Quem faz o bem fica cada vez mais bom, ao passo que nem sempre o bem que se faz é aproveitado pelos outros.
Na quinta-feira dia 9 aqui em Santo André, a jovem Paula de Freitras Silva, foi morta com um tiro ao ser assaltada tendo de entregar seu celular. Um crime que mostra-nos a banalidade do mal que existe entre nós, e faz muitos desiludirem de buscar uma sociedade mais justa e fraterna.
O exemplo de Nhá-Chica nos mostra que todos podemos fazer alguma coisa, mesmo a partir da sua pequenez e pobreza, para melhorar este mundo, no qual as sombras do mal assustam, mas a luz da bondade ilumina e prevalece.
Nhá Chica é uma mensagem clara de que o mal se vence com o bem.
Dom Pedro Carlos Cipollini
Bispo Diocesano de Santo André