Diocese de Santo André

Eis o mistério da fé: o Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo

Com a bula Transiturus de hoc mundo de 11 de agosto de 1264, o Papa Urbano IV instituiu a Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo. Ele nos recorda que “Cristo, nosso salvador, estando para partir deste mundo para subir ao Pai, pouco antes de sua Paixão, na Última Ceia, instituiu, em memória de sua morte, o sumo e magnífico sacramento de Seu Corpo e Seu Sangue, dando-nos o Corpo como alimento e o Sangue como bebida”. Esta é a fé da Igreja a respeito do sacramento da Eucaristia. Só para citar os documentos que foram escritos no período pós Concílio Vaticano II, temos: a carta encíclica Mysterium Fidei sobre o culto da sagrada Eucaristia do Papa Paulo VI; a carta encíclica Ecclesia de Eucharistia sobre a Eucaristia na sua relação com a Igreja do Papa São João Paulo II; a exortação apostólica pós-sinodal Sacramentum Caritatis sobre a Eucaristia, fonte e ápice da vida e da missão da Igreja do Papa Bento XVI. Apenas alguns exemplos de como a Igreja se empenha em contemplar esse grande mistério da nossa fé.

Mas, se como afirma o Papa Urbano IV, é na Quinta-Feira Santa que Nosso Senhor institui a Eucaristia, por que só sessenta e três dias depois (ou seja, sempre na quinta-feira depois da oitava de Pentecostes) é que se celebra solenemente tal acontecimento grandioso para a nossa vida cristã? Talvez o clima do Tríduo Pascal não seja o mais propício para tal comemoração, pois o Senhor está às vésperas de ser preso, julgado, condenado e morto. E se a Eucaristia deve ser de alguma forma destacada na Quinta-Feira Santa, que seja como a perpetuação do Sacrifício de Nosso Senhor na Cruz. Já na Solenidade de Corpus Christi, seja mais interessante recordar a presença real de Nosso Senhor nas espécies sacramentais do pão e do vinho. A celebração da Eucaristia é a memória do Sacrifício da Cruz, as espécies eucarísticas são a presença física de Nosso Senhor Jesus Cristo em nosso meio.

O mais interessante nisso tudo, é entendermos como se deu a instituição desta solenidade. No século XIII, viveu na Bélgica uma religiosa agostiniana, Santa Juliana de Liège, que foi agraciada com visões onde Nosso Senhor lhe pedia que se celebrasse solenemente tal festa. Conheceu a religiosa, o arquidiácono em Liège, Tiago Pantaleão de Troyes, que depois se tornaria o Papa Urbano IV, que no uso legítimo de suas atribuições, instituíra tal solenidade, conforme a bula acima citada. Mas também teria colaborado para isso um milagre eucarístico que se deu na cidade de Bolsena, em que o padre Pedro de Praga, descansando no regresso de sua peregrinação a Roma, ao celebrar a Santa Missa, na hora da elevação da hóstia, vê que dela escorre sangue. Por mais que fosse piedoso, tal padre era conhecido por ter dificuldades em acreditar na presença real de Nosso Senhor nas espécies eucarísticas. O corporal no qual caíram gostas do sangue escorrido da hóstia consagrada, foi levado a Orvieto, onde residia o Papa Urbano IV. Depois deste acontecimento, o Papa está convencido de que aquelas visões de Santa Juliana e o pedido de Nosso Senhor, estavam sendo confirmados por esse milagre.

Conta a crônica da época, que o Papa Urbano IV teria convidado teólogos de renome para que escrevessem as orações próprias para a celebração litúrgica da recém-criada solenidade. Estando entre os teólogos convidados Santo Tomás de Aquino, depois de este ter apresentado os seus textos, diz-se que os outros imediatamente rasgaram suas próprias versões. Tendo acontecido assim ou não, o fato é que o ofício litúrgico de Corpus Christi atribuído a Santo Tomás é de uma beleza e riqueza espiritual e teológica de grande proveito. O próprio Catecismo da Igreja Católica (n. 1381) cita aquilo que Santo Tomás escreve em sua Suma teológica (III, 75, 1): “Que o corpo e sangue de Cristo estão verdadeiramente no sacramento do Altar, não podemos apreendê-la nem pelos sentidos nem pelo intelecto; mas só pela fé, que se apóia na autoridade divina”. O que não quer dizer em hipótese alguma que o santo teólogo se eximiu de buscar entender tal mistério, dado que dedica as questões 73 a 83 de sua obra citada.

Por mais que este seja um mistério inesgotável e que toda produção científica que se possa produzir, seja insuficiente para reconhecer a sua grandeza, hoje é praticamente um fato incontestável a doutrina católica sobre a sagrada Eucaristia. Dessa forma, se faz necessária uma reflexão decorrente disso, motivada por acontecimentos contemporâneos. Têm se tornado comuns as notícias de igrejas que são vandalizadas e que têm seus tabernáculos violados e a sagrada Eucaristia profanada. Isso pode ser até um caso de segurança pública, de ataque à propriedade privada, mas aos católicos é, sobretudo, uma questão de fé. Nossa instantânea reação de pesar por esses acontecimentos, têm se transformado em ações concretas na prevenção e combate a tais profanações? A questão não é apenas de contratar seguranças para nossas igrejas, instalar câmeras, reforçar as trincas dos tabernáculos ou qualquer outra medida pragmática de segurança. Na verdade, devemos nos perguntar: estamos nos colocando de joelhos diante do Santíssimo Sacramento, pedindo pela conversão de todos os pecadores, inclusive nós mesmos, para que todos reconheçam que na Eucaristia se faz presente o próprio Deus?

Concluamos com uma historinha que o Padre Duarte Sousa Lara conta em uma homilia que está em seu canal no YouTube. Uma mãe dirige-se ao pároco com o seu filho que é deficiente. Por causa das dificuldades do filho em participar de uma turma de catequese com as outras crianças, a mãe o prepara em casa e pede ao padre que lhe dê a primeira comunhão. Então o padre lhe pergunta: qual é a diferença entre o crucifixo e a Eucaristia? A criança responde: no crucifixo parece Jesus mas não é, na Eucaristia não parece Jesus mas é.

*Artigo de Rafael Ferreira de Melo Brito da Silva

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