“Deus, criador de tudo, criou o homem e a mulher como efusão de seu amor. Amou-os infinitamente e lhes deu uma vocação ao amor e à comunhão. A família, conseqüência dessa vocação, é dentre todas as suas obras, a obra predileta de Deus nesse seu projeto de amor.(Diretório da Pastoral Familiar – Doc. 79 – CNBB n° 45)
Ao criar o paraíso com tudo de bom e belo que existe nele, Deus, ao usar o verbo no plural “façamos”, criou o ser humano à sua imagem, criou-o à imagem de um Deus trino que é Pai, Filho e Espírito Santo, para que fosse zelador daquela obra, a “casa comum”. E Deus viu que tudo era bom. (Gn 1,26)
Mas ao observar o homem sozinho no paraíso, Deus declarou que não era bom que o homem estivesse só. Por isso lhe daria uma companheira que lhe fosse semelhante. Pondo então o homem a dormir para que a partir de uma costela retirada, criasse a mulher. “Carne de sua carne, ossos de seu osso”. E vendo o casal humano, homem e mulher, Deus exclamou em júbilo: Isto é muito bom. (Gn, 1,28)
Para que a felicidade sonhada por Deus se realizasse plenamente, desde o início, o casal foi orientado a deixar a sua família de origem para formar uma nova família. Família agora ampliada com filhos, netos, sogros, cunhados etc. Princípios unitivos e procriativos inerentes ao Matrimônio que nossa sociedade moderna relativiza, banaliza e descarta, produzindo então um sentimento negativo e triste para o projeto de continuidade da humanidade de nosso Criador.
Nos Encontros de Preparação para a Vida Matrimonial, é comum detectarmos, entre os casais de noivos, intenções de não terem filhos, ao que alertamos que além da nulidade daquele casamento, este pensamento nos leva a concluir que também não cuidarão de seus pais quando idosos ou portadores de outras necessidades que o passar do tempo pode ocasionar. Prova disto é o número de idosos esquecidos em asilos, abrigos e creches para velhinhos e outros eufemismos enganadores para este descarte humano. Os cães tem tido mais espaço do que pais e filhos em seus corações. Deus os abençoou e lhes disse: “Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a.” (Gn 1,28)
“Na realidade, cada pessoa prepara-se para o matrimônio, desde o seu nascimento. Tudo o que a família lhe deu, deveria permitir-lhe aprender da própria história e torná-la capaz de um compromisso pleno e definitivo. Provavelmente os que chegam mais bem preparados ao casamento são aqueles que aprenderam dos seus próprios pais o que é um matrimônio cristão, onde se escolheram um ao outro sem condições e continuam a renovar esta decisão.” (Amoris Laetitia, n.208) “…que os noivos não considerem o matrimônio como o fim do caminho, mas o assumam como uma vocação que os lança para diante, com a decisão firme e realista de atravessarem juntos todas as provações e momentos difíceis. (Amoris Laetitia, n. 211)
Por que será que o primeiro milagre da vida pública de Jesus aconteceu em uma festa de casamento? O que o episódio da transformação da água em vinho nos ensina enquanto casal? Tudo o que se passou naquelas bodas de Cana da Galileia (Jo 2, 1-11) é para nos mostrar que quando Jesus, Maria e seus discípulos são convidados a participarem de nossa vida de casal, de família, o melhor vinho estará garantido desde que deixemos as talhas cheias de água, esforço aqui entendido como amor, fidelidade, diálogo, perdão, oração e outros componentes da vida cotidiana do casal. Fazei tudo o que Ele vos disser, (Jo 2, 5) foi o recado de Maria para os que serviam àquela festa de casamento. Recado para nós também para que busquemos na fonte segura, a Palavra de Deus, as orientações do dia a dia. Tudo o que Ele nos disser para crescermos em santidade.
“Todos somos chamados a ser santos, vivendo com amor e oferecendo o próprio testemunho nas ocupações de cada dia, onde cada um se encontra. És uma consagrada ou um consagrado? Sê santo, vivendo com alegrai a tua doação. Está casado? Sê santo, amando e cuidando do teu marido ou da tua esposa, como Cristo fez com a Igreja.” Gaudete et Exsultate (sobre o chamado à santidade no mundo atual), Papa Francisco.
“O Matrimônio, elevado por Cristo à altíssima dignidade de Sacramento, confere maior esplendor e profundidade ao vínculo conjugal e compromete mais vigorosamente os esposos que, abençoados pelo Senhor da Aliança, se prometem fidelidade recíproca até a morte, no amor aberto à vida. Para eles, o cerne e o coração da família é o Senhor, que os acompanha na missão de educar os filhos rumo à maturidade. De tal maneira, a família cristã coopera com Deus não somente na geração da vida natural, mas inclusive na cultivação dos germens da vida divina recebida mediante o Batismo.” Papa Bento XVI
No matrimônio, vive-se também o sentido de pertencer completamente a uma única pessoa. Os esposos assumem o desafio e o anseio de envelhecer e gastar-se juntos, e assim refletem a fidelidade de Deus. Esta firme decisão, que marca um estilo de vida, é “uma exigência interior do pacto de amor conjugal, porque, “quem não se decide a amar para sempre, é difícil que possa amar deveras um só dia”. Mas isto não teria significado espiritual, se fosse apenas uma lei vivida com resignação. É uma pertença do coração, lá onde só Deus vê (cf. Mt 5,28). Cada manhã, quando se levanta, o cônjuge renova diante de Deus esta decisão de fidelidade, aconteça o que acontecer ao longo do dia. E cada um, quando vai dormir, espera levantar-se para continuar esta aventura, confiando na ajuda do Senhor. Assim, cada cônjuge é para o outro sinal e instrumento da proximidade do Senhor, que não nos deixa sozinhos: Estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos”. (Mt 28,20) (AL 319)
“No seio da família há sempre um chamado, sendo ele matrimonial, sacerdotal ou para outra forma de vida consagrada. “Diante das famílias e no meio delas, deve ressoar sempre de novo o primeiro anúncio, que é o ‘mais belo’, mais importante, mais atraente e, ao mesmo tempo, mais necessário e deve ocupar o centro da atividade evangelizadora” (Al 38). As palavras do Papa devem nos impulsionar a silenciar mais o coração e ouvir a voz de Deus que a todo momento conta conosco para uma missão, principalmente com os jovens, porque eles têm força e coragem para lutar. (Hora da Família 2019)
A vida em casal é uma participação na obra fecunda de Deus, e cada um é para o outro uma permanente provocação do Espírito. O amor de Deus exprime-se através das palavras vivas e concretas com que o homem e a mulher se declaram o seu amor conjugal. Assim, os dois são entre si reflexos do amor divino, que conforta com a palavra, o olhar, a ajuda, a carícia, o abraço. Por isso, “querer formar uma família é ter a coragem de fazer parte do sonho de Deus, a coragem de sonhar com Ele, a coragem de construir com Ele, a coragem de unir-se a Ele nesta história de construir um mundo onde ninguém se sinta só. (AL 321)
Que a Sagrada Família de Nazaré nos anime e ilumine a trabalharmos pelas famílias para que possam resgatar o valor inalienável de “berço de todas as vocações”, especialmente, as sacerdotais e as matrimoniais. Amém.
Artigo desenvolvido por Osmarina Pazin Baldon
Cântico das Núpcias
Dom Marcos Barbosa
Nossos caminhos são agora um só caminho,
Nossas almas, uma só alma.
Cantarão para nós os mesmos pássaros,
E os mesmos anjos desdobrarão sobre nós
As invisíveis asas.
Temos agora por espelho os nossos olhos;
O teu riso dirá a minha alegria,
E o teu pranto a minha tristeza,
Se eu fechar os olhos, tu estarás presente;
Se eu adormecer serás meu sonho;
E serás, ao despertar, o sol que desponta.
Nossos mapas serão iguais,
E traçaremos juntos os mesmos roteiros
Que conduzam às fontes escondidas
E aos tesouros ocultos.
Na mesma página do evangelho
Encontraremos o Cristo,
Partiremos na ceia o mesmo pão;
Meus amigos serão os teus amigos,
E perdoaremos com iguais palavras
Àqueles que nos invejam.
Será nossa leitura à luz da mesma lâmpada,
Aqueceremos as mãos ao mesmo fogo
E veremos em silêncio, desabrochar no jardim
A primeira rosa da primavera.
Iremos depois nos descobrindo
Nos filhos que crescem,
E não mais saberemos distinguir em cada um
Os meus traços e os teus,
O meu e o teu gesto,
E então nos tornaremos parecidos.
E nem o mundo, nem a guerra, nem a morte,
Nada mais poderá separar-nos,
Pois seremos mais que nunca,
Em cada filho,
Uma só carne
E um só coração.
Que o homem não separe o que Deus uniu!
Que o tempo não destrua a aliança que nos prende,
Nem os amores, o amor.
Que eu não tenha outro repouso que o teu peito
Outro amparo que a tua mão,
Outro alimento que o teu sorriso,
E, quando eu fechar os olhos para a grande noite,
Sejam tuas, as mãos, que hão de fechá-los.
E, quando os abrir para a visão de Deus,
Possa contemplar-te como o caminho,
Que me enlevou, dia após dia,
À fonte de todo o amor.
Nossos caminhos são agora um só caminho,
Nossas almas, uma só alma.
Já não preciso estender a mão para alcançar-te
Já não precisas falar para que eu te escute…