Quando falamos de castidade, muitos pensam logo nos padres, no cumprimento do celibato, ou nos religiosos e religiosas, que fazem este voto. Além disso, outros ainda acham que falar sobre este tema atualmente já não é possível, por conta da sociedade em que vivemos, que muitas vezes ridiculariza este ensinamento da Igreja, talvez por não entenderem o que realmente significa esta virtude. O dom da castidade, porém, é um projeto de vida para todos os batizados que precisa ser assumido por amor ao Reino de Deus (Cf. Mt 19,12), cada um de acordo com o seu estado de vida (cf. CIgC 2348), sendo mais bem vivido a partir do seu conhecimento verdadeiro.
Por mais que possamos separar diferentes âmbitos da vida humana, como o intelectual, o relacional, o espiritual, somos um ser integral e precisamos trabalhar todas essas dimensões. A castidade diz respeito ao campo humano-afetivo, como nos comportamos e como agimos com os outros e pessoalmente. Saber ordenar este campo faz com que os demais possam se desenvolver mais efetivamente. O Catecismo da Igreja Católica nos apresenta que a castidade é a integração correta da sexualidade na pessoa, levando à uma unidade interior do homem em seu ser corporal e espiritual (cf. CIgC 2338). Mais do que apenas uma restrição de certas práticas, esta virtude manifesta o equilíbrio entre as dimensões humanas, pensando o homem em sua totalidade, não apenas em uma ou outra parte.
A castidade, assim como as demais virtudes, precisa ser entendida como um processo de aprendizagem do domínio de si; não a recebemos de forma completa e acabada, mas pressupõe um caminho, feito a partir de uma escolha primordial: deixar-se levar pelas paixões ou comandá-las, ordenando de acordo com o projeto de Deus. A partir desta escolha, é preciso caminhar, mesmo que no meio do caminho, ocorram deslizes e quedas. Mesmo nessas ocasiões, é possível aprender melhor sobre si mesmo e sobre o domínio das paixões, dando forças para que a caminhada possa ser retomada. A castidade é um trabalho a longo prazo, necessitando de um esforço constante dentro de cada idade e de cada estado de vida. É preciso recordar que embora seja uma virtude que possa ser trabalhada, deve também ser entendida como dom de Deus, pois, através de seu Espírito, queremos imitar a pureza do próprio Cristo.
Um dos fatores que influenciam na construção desta virtude é o elemento cultural. Em uma sociedade do descartável e que, em grande parte, permite o prazer desenfreado, mesmo às custas dos outros, a castidade parece ser um grande desafio ou até mesmo algo ultrapassado. Olhando os sinais dos tempos, São João Paulo II, entre os anos de 1979 e 1984, fez uma série de catequeses que receberam o nome de Teologia do Corpo. O santo polonês, partindo da experiência criacional do livro do Gênesis e com o testemunho das Escrituras, analisa com profundidade as experiências humanas no campo afetivo, mostrando aos homens o projeto de Deus que passa pela realidade corpórea humana, apresentando uma lógica diferente do que se vê em muitos lugares.
O papa deixa claro que o homem e a mulher, expressões máximas do dom divino do Criador, com toda a sua complexidade, foram feitos à imagem e semelhança de Deus e, por isto, essencialmente bons, em toda a sua realidade. Não é como alguns pensam, onde o corpo é ruim, servindo apenas para pecar, e a alma boa, única fonte de salvação. Não! Por completo, o homem, parte da criação, é um dos locais da manifestação de Deus. O corpo se torna uma espécie de “sacramento”, já que manifesta visivelmente a realidade invisível presente no homem. É a partir da sua experiência corpórea que o homem e a mulher são chamados à santidade, vivendo a castidade.
Mais do que apontar dificuldades, o papa resgata um sentido positivo para a experiência corporal, recuperando a sua beleza. Desta forma, a castidade, mais do que uma série de proibições, quando verdadeiramente vivida, manifesta a importância dada ao próximo e a si mesmo, pois não se visa apenas utilizar o corpo alheio, mas respeitá-lo como templo do Espírito Santo.
Os desafios para a vivência correta da castidade são muitos, mas a Igreja apresenta alguns meios que podem ajudar no progresso desta virtude, como o conhecimento de si em sua integralidade; a ascese, como manifestação concreta do desejo de continuar nesse propósito; a obediência aos mandamentos, como parâmetros para as ações; a prática das demais virtudes morais, dando o suporte para esta virtude e a fidelidade à oração, aumentando a intimidade com o Senhor.
O dom da castidade é melhor vivenciado não como cumprimento mecânico de regras e proibições, mas motivado pelo amor de Cristo em nossos corações, sabendo ver a beleza de vivenciar corretamente as etapas da vida, de acordo com a vocação de cada um. A vivência da castidade ajuda na doação pessoal ao projeto de Deus e à sua Igreja já que, por meio de nossos atos e jeito de ser, vivemos como o Cristo nos ensinou.
* Artigo por seminarista Gustavo Laureano