Diocese de Santo André

Rosa Martins, da Diocese de Santo André, vence prêmio da CNBB por pesquisa sobre migração de menores não acompanhados

“Receber um prêmio da Igreja por um trabalho como esse que toca a carne humana sofrida, dilacerada, marcada pela opressão, é sinal para mim, de que a Igreja Católica é, de fato, testemunha do Evangelho de Jesus.”

Com a dissertação Menores estrangeiros não acompanhados – uma análise da representação no fotojornalismo italiano, da jornalista Rosa Maria Martins Silva, 53 anos, da Congregação das Irmãs Missionárias Scalabrinianas e atuante na Igreja Matriz de Santo André, da Diocese de Santo André (SP), foi a vencedora na noite da última quarta-feira (20/10), na categoria Papa Francisco (Pesquisas), da 53ª edição dos Prêmios de Comunicação da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). Em razão da pandemia, a iniciativa aconteceu em modo remoto.

“Muita emoção! Esse prêmio em primeiro lugar é dedicado a essa gente pequena, infante, corajosa, protagonista da própria história e que me ensina muito. Eles ultrapassam todas as barreiras porque tem amor a si próprio, amor à vida e seguem em frente. Dedico em especial a cada um deles que confiou a mim a sua história pessoal. Eles me inspiram a cada dia na minha vocação. Meninos, esse prêmio é de vocês! Obrigada”, agradeceu a ganhadora, que elogiou a iniciativa da CNBB e também dedicou o prêmio à família, às irmãs scalabrinianas e ao próprio Papa Francisco.

Rosa Martins nasceu em Inhapim (MG). É mestre em Comunicação, Imagem e Entretenimento pela Fundação Cásper Líbero (SP). Também é licenciada em Filosofia pela Universidade Salesiana de Lorena (SP) e Bacharel em Teologia pelo Instituto São Boaventura de Roma, na Itália.

 

53ª edição dos Prêmios de Comunicação da CNBB
Os 45 finalistas participaram, de forma virtual, de um programa de televisão dinâmico, com produção coordenada pela TV Pai Eterno. O programa foi ao ar às 21h nas emissoras de inspiração católica e redes sociais da CNBB. O anúncio dos 15 ganhadores dos Prêmios foi feito ao longo do programa, que contou com a apresentação da Manuela Castro, assessora de Comunicação da CNBB e do jornalista Zé Eymard. Conheça todos os ganhadores

Confira a entrevista concedida à Ascom (Assessoria de Comunicação da Diocese de Santo André) em que Rosa fala sobre a inspiração para o trabalho, a motivação para concorrer ao prêmio da CNBB e a emoção do reconhecimento:

1 – Rosa, primeiramente parabéns pelo prêmio. Poderia falar sobre como surgiu a inspiração para a realização da dissertação vencedora da categoria Papa Francisco (Pesquisas)?
Trabalhei por 16 anos a fio na educação em nossa Rede Scalabriniana de Educação. Tenho uma paixão especial por crianças. Uni essa paixão àquelas da missão própria, pelo jornalismo somadas a um olhar sensível pela causa de quase 200 mil crianças desacompanhadas que buscaram asilo na Europa no período desta pesquisa, a saber 2016 -2018. Ademais, me chama a atenção no fenômeno migratório e me causa grande compaixão, a diáspora africana que continua nos dias de hoje e as perigosas travessias no Mediterrâneo.

 

2 – E a motivação para inscrever o trabalho, como aconteceu?
O que me motivou a inscrever este trabalho para o prêmio CNBB de comunicação: A relevância do tema nos dias atuais. Na América Latina e em todo mundo as crianças neste momento se veem obrigadas a abrir mão da infância e se tornarem adultas antes da hora para sobreviverem.  O próprio nome da Categoria Mestrado: Prêmio Papa Francisco. Minha dissertação trata da temática da migração, pupila dos olhos do Papa Francisco. Sua primeira viagem como Sumo Pontífice foi a Lampedusa.

A carta tão incentivadora que recebi dele em abril deste ano, incentivando minha vocação e meu trabalho de jornalista, em resposta à revista Exodus, naquele momento sobre minha responsabilidade. Esse trabalho foi indicado no ano passado ao Prêmio Tarso Genro Filho de jornalismo. Tive nota 10 com louvor e indicação para publicação, mas infelizmente não consegui uma editora que me ajudasse a publicá-lo.

Esse trabalho traz muitas luzes para uma verdadeira pastoral da criança migrante e refugiada. Creio que no Brasil precisaríamos implementar uma pastoral da Infância Refugiada e ela própria com suas experiências de migração pode nos indicar o caminho certo para um maravilhoso subsídio pastoral.

 

3 – Quanto tempo para elaboração da dissertação? Como foi essa experiência para você?
Foram dois anos intensos de estudos. Em 2017 e 2018 passei uma temporada na Itália nas cidades de Roma, Siracusa, Lampedusa, Catânia, Lamezia Terme, Calábria, Napoli, Lucca, Porcari e Massa Macinaia, para acompanhar as travessias dos imigrantes e encontrar os menores e conviver com eles.

Você me pergunta como foi a experiência. Única. Ímpar. O período da minha pesquisa foi um tempo fortíssimo de migração para a Europa. Os jornais só falavam disso todos os dias. As travessias eram intensas. Não dá para descrever nesta entrevista o que vi e vivi. (lágrimas). Como é duro ver o sofrimento humano e não poder aliviá-lo. Eu só podia ouvir, buscar forças em Deus para escutar tamanha dor, tamanha necessidade de arriscar a vida para viver. Parece contraditório né? Lhe conto uma das experiências:

Em Catânia, sul da Itália, entrevistei um menino africano, de 15 anos. Ele me contou: “Eu saí sozinho, parte do caminho da Guiné para a Líbia fazia de carro, depois caminhei uns 10 dias pelo deserto. Encontrei restos de roupa, pedaços de braços, corpos de mulheres, homens, crianças deterioradas pelo caminho e eu pensei: quando acabar minha comida, eu também vou morrer”. Mas graças a Deus estou aqui. Fiquei escravo dos traficantes por dois meses na Líbia. Amontoados em um galpão, quem pedia comida eles batiam ou atiravam, faziam sexo com as pessoas ali no meio de todo mundo. Fugi por um buraco na parede e caminhei de noite com outras pessoas, em silêncio para ninguém nos ouvir e pegamos o barco para a Itália. Graças a Deus estou aqui.”

São histórias duras, inacreditáveis, que causam indignação, revolta, como também uma tremenda paixão por esta missão. Tenho tanto a contar…Não caberia num livro o que vivi e ouvi. Havia momentos que a história era tão dura, que as lágrimas desciam ali mesmo sem eu querer. Por outro lado, me encanta e apaixona, o sorriso, a alegria e a esperança mesmo na dor. A primeira coisa que um migrante faz quando desce do barco é ajoelhar, agradecer e sorrir. É emocionante. Quanto ensinamento!

 

4 – E a emoção de receber esse prêmio? O reconhecimento ao trabalho e dedica para quem?
Muita emoção! Esse prêmio em primeiro lugar é dedicado a essa gente pequena, infante, corajosa, protagonista da própria história e que me ensina muito. Eles ultrapassam todas as barreiras porque tem amor a si próprios, amor à vida e seguem em frente. Dedico em especial a cada um deles que confiaram a mim as suas histórias pessoais. Eles me inspiram a cada dia na minha vocação. Meninos, esse prêmio é de vocês! Obrigada!

Receber um prêmio da Igreja por um trabalho como esse que toca a carne humana sofrida, dilacerada, marcada pela opressão, é sinal para mim, de que a Igreja Católica é, de fato, testemunha do Evangelho de Jesus.

Ela entende de Evangelho. Quanta satisfação! Pelas crianças, pelos migrantes e refugiados, obrigada, CNBB, Igreja do Brasil, que eu tanto amo e respeito. Quero dedicar esse prêmio a papai e mamãe (in memoriam) que me educaram na fé, formaram o meu caráter e me incentivaram a estudar sempre, à minha família e à Irmã Romilda Cappellini, missionária scalabriniana que tudo fez para que eu entrasse na faculdade de comunicação e ao Papa Francisco por ser a voz por excelência que, num mundo conturbado, se levanta, sem medo, em favor dos migrantes e refugiados. Uma voz eficaz que tem causado efeitos importantes para a acolhida, a proteção, a promoção e a integração dos migrantes e refugiados.

Por ocasião de sua visita a Marrocos, disse aos migrantes e refugiados: “Sinto-me feliz por esta possibilidade de vos encontrar durante a minha visita ao Reino de Marrocos, que me proporciona renovada ocasião para expressar a minha proximidade a todos vós e, juntamente convosco, debruçar-me sobre uma ferida, grande e grave, que continua a afligir os inícios deste século XXI. Uma ferida que brada ao céu; não queremos que a indiferença e o silêncio sejam a nossa resposta” (cf. Ex 3, 7).

E, mais ainda, quando se constata que são muitos milhões os refugiados e outros migrantes forçados que pedem a proteção internacional, sem contar as vítimas do tráfico e das novas formas de escravidão nas mãos de organizações criminosas. Ninguém pode ficar indiferente perante este sofrimento. Um Papa assim tão humano, tão sensível com a causa do outro, me enche os olhos”.

Papa Francisco, esse prêmio é também de Sua Santidade! E um agradecimento enorme à Congregação das Irmãs Scalabrinianas, da qual faço parte e que é a minha segunda família, me sustenta, me protege e me dá todas essas oportunidades. Gratidão às minhas coirmãs!

Fotos: arquivo pessoal

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