Em sintonia com a Igreja no Brasil e no mundo, a Diocese de Santo André elaborou um material (baseado no vade mecum, manual para ouvir e discernir nas Igrejas locais) com as diretrizes para a etapa diocesana do processo de escuta do Sínodo dos Bispos, que será vivenciado em três fases até 2023. Esse documento norteará as formações nas regiões pastorais e nas paróquias durante o primeiro semestre de 2022, com o objetivo de promover a reflexão e a participação de toda a Igreja. O material, encaminhado na versão impressa para as paróquias, conta com 21 páginas e dez capítulos. Confira o conteúdo:
1. Sobre a Sinodalidade
Na introdução, o bispo diocesano Dom Pedro Carlos Cipollini aprofunda o olhar sobre a sinodalidade, ao falar da fundamentação teológica e a busca da unidade na diversidade. “Que todos sejam um para que creiam que me enviastes” (Jo 17,21). “O amor requer unidade e união. Mas que tipo de unidade? Ao falar de unidade é necessário iniciar dizendo que unidade e diversidade não são noções contraditórias. A busca da unidade na igreja não significa uniformidade. É unidade na diversidade, uma unidade plural. A sinodalidade é dimensão constitutiva da Igreja”, afirma Dom Pedro.
Ele também promove uma fundamentação histórica e elenca uma série de Tarefas e Desafios: Resgatar a Teologia Trinitária; Viver a Koinonia sem cair no “democratismo”; Vivência mais intensa da Igreja particular; Incentivar o Protagonismo dos leigos; Dar espaço para a Parresia como profetismo intraeclesial; Adotar novo modo de gerir a economia na Igreja; Passar da ética da obediência à ética da responsabilidade. Da centralização à corresponsabilidade; Praticar as virtudes necessárias: Escuta, paciência, diálogo; Passar de uma Igreja triunfalista e autorreferencial, para uma Igreja Povo de Deus Peregrino; Levar em conta que os fiéis também são ungidos pelo Espírito Santo; e Passar da lei do preceito à “lei do Espírito”.
“Os cristãos não conseguirão ser testemunhas de uma sociedade nova fundada nos princípios do Evangelho do Reino de Deus, se não experimentarem na comunidade a corresponsabilidade e a subsidiariedade que são marcas da sinodalidade […] Se faz necessária uma conversão de todos na Igreja para implementar a sinodalidade. É para isto que o Papa Francisco está convocando a Igreja. Qual será nossa resposta?”, indaga o bispo.
2. Logomarca
No segundo capítulo, o documento explica o significado da logomarca do Sínodo dos Bispos. Uma grande árvore majestosa, cheia de sabedoria e luz, atinge o céu. Sinal de profunda vitalidade e esperança, exprime a cruz de Cristo. Traz a Eucaristia, que brilha como o sol. Os ramos horizontais se abrem como mãos ou asas e sugerem, ao mesmo tempo, o Espírito Santo.
O povo de Deus não é estático: está em movimento, em referência direta à etimologia da palavra sínodo, que significa “caminhar junto”. As pessoas estão unidas pela mesma dinâmica e respiram da Árvore da Vida, a partir da qual iniciam sua jornada.
Essas 15 silhuetas resumem toda a nossa humanidade em sua diversidade de situações de vida, gerações e origens. Este aspecto é reforçado pela multiplicidade de cores vivas que são, elas próprias, sinais de alegria. Não há hierarquia entre essas pessoas que estão todas no mesmo nível: jovens, velhos, homens, mulheres, adolescentes, crianças, leigos, religiosos, pais, casais, solteiros, deficientes; o bispo e a freira não estão à frente deles, mas entre eles. Muito naturalmente, as crianças e depois os adolescentes abrem o caminho, referindo-se às palavras de Jesus no Evangelho: “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e revelastes aos pequeninos” (Mt 11,25).
A linha de base horizontal: “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”, vai da esquerda para a direita no sentido de uma marcha, sublinhando e reforçando-a, terminando com o título “Sínodo 2021-2023”: o ponto culminante que resume tudo.
3. Palavras-chave para o processo sinodal
Em seguida, o material apresenta as três dimensões do tema do Sínodo dos Bispos: “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”, que estão profundamente inter-relacionadas. Elas são os pilares vitais de uma Igreja sinodal.
Primeiramente, a Comunhão que partilhamos encontra as suas raízes mais profundas no amor e na unidade da Trindade. É Cristo que nos reconcilia com o Pai e nos une uns aos outros no Espírito Santo. Juntos, somos inspirados pela escuta da Palavra de Deus, através da Tradição viva da Igreja, e com base no sensus fidei que partilhamos. Todos temos um papel a desempenhar no discernimento e na vivência do chamamento que Deus faz ao seu povo.
Depois, a Participação, um chamamento ao envolvimento de todos os que pertencem ao Povo de Deus – leigos, consagrados e ministros ordenados – para se empenharem no exercício de uma escuta profunda e respeitosa uns dos outros. Esta escuta cria espaço para ouvirmos juntos o Espírito Santo e guia as nossas aspirações para a Igreja do Terceiro Milênio.
Por fim, a Missão, que é testemunhar o amor de Deus no meio de toda a família humana. Este Processo Sinodal tem uma dimensão profundamente missionária. Destina-se a deixar que a Igreja testemunhe melhor o Evangelho, especialmente com aqueles que vivem nas periferias espirituais, sociais, econômicas, políticas, geográficas e existenciais do nosso mundo.
4. Atitudes a valorizar e armadilhas a evitar no processo sinodal
Esse capítulo destaca que a fase diocesana destina-se a oferecer, ao maior número possível de pessoas, uma verdadeira experiência sinodal de se escutarem umas às outras e de caminharem em conjunto, guiadas pelo Espírito Santo. Para esse processo, devemos levar em consideração o que segue:
Ser sinodal requer tempo para a partilha: falar com coragem e honestidade autênticas (parrhesia), integrando liberdade, verdade e caridade.
O diálogo sinodal depende tanto da coragem para falar, como para escutar: Acolher o que os outros falam como um modo através do qual o Espírito Santo pode falar para o bem de todos.
Abertura à conversão e às mudanças. Não deixar as coisas como estão, apenas com a justificativa de que “sempre foi assim” ou por comodismo e conforto.
Superação da ideia de que no diálogo um tem que vencer o outro: encorajar conflitos divisionistas, que ameaçam a unidade e comunhão da Igreja, é contrário ao espírito de sinodalidade.
Libertar mentes e corações de preconceitos e estereótipos que conduz à ignorância e à divisão.
Vencer o flagelo do clericalismo: Todos temos a mesma dignidade na Igreja. A exemplo de Cristo, o verdadeiro poder é serviço.
Curar o vírus da autossuficiência e aprender uns com os outros, caminhar juntos e estar uns ao serviço dos outros.
Inspirar as pessoas a criar uma visão do futuro cheia da alegria do Evangelho.
Buscar ser faróis de esperança, não profetas da desgraça. Vencermos a tentação de ver apenas problemas, pois se nos concentrarmos apenas na escuridão, podemos deixar de ver a luz.
Deixar-se guiar por Deus, vencendo a tentação de sermos guias de nós mesmos.
Alargar nosso olhar para ver a partir dos pontos de vista dos outros e não apenas de nós mesmos e de nosso imediatismo.
Identificar e apreciar os lugares onde o Espírito Santo já está gerando vida e ver como podemos deixar que Deus trabalhe mais plenamente.
Ter horizontes bem alargados com o objetivo de cumprirmos a nossa missão no mundo (ser sal da terra / fermento na massa).
Consultar todo o povo de Deus para que o Processo Sinodal seja levado a cabo através da escuta de todos os batizados. Vencer a tentação de escutar apenas aqueles que já estão envolvidos nas atividades da Igreja.
5. Etapas do Processo Sinodal
Essa é a primeira vez que o Papa convoca a Igreja inteira a participar da preparação de uma assembleia do Sínodo, que ao longo de dois anos ocorrerá de forma descentralizada e com um itinerário composto de três fases (diocesana, continental e universal), por meio de consultas e discernimento do Povo de Deus, que culminará com a XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos.
Clique aqui e acesse o calendário da fase diocesana.
6. Passos para o Processo de Escuta
Essa etapa é composta de três pontos: a Equipe de Trabalho (definir uma equipe organizadora para planejar e conduzir os encontros formativos e as Reuniões de Consulta Sinodal); a Formação (preparação para os encontros nas regiões pastorais e nas paróquias); e as Reuniões de Consulta Sinodal (partilha e escuta, que serão realizadas após as formações). A síntese de cada paróquia (ou outros grupos que realizarem o processo), com até cinco páginas, deve ser encaminhada à equipe diocesana e preparada uma via impressa para ser apresentada na celebração pré-sinodal e outra enviada até o dia 3 de julho de 2022, no e-mail: centropastoral@diocesesa.org.br ou no WhatsApp: 99981-1233.
7. Reuniões de Consulta Sinodal
Preparar o ambiente de forma que todos sejam bem acolhidos.
Organizar um momento oracional com todos os presentes reunidos em um único grupo (sugestão na última página dessas Diretrizes).
Indicar aos participantes quais são os temas, dentre os 10 do roteiro, que serão objeto de reflexão na reunião daquele dia.
Após a oração e as orientações, dividir os participantes em grupos de 6 a 7 pessoas para facilitar a partilha e escuta. Cada grupo deve ter um secretário e um moderador, que deverão ser escolhidos e orientados previamente.
Deve ser refletido um tema de cada vez, antes de iniciar cada tema, sugere-se um minuto de silêncio orante, para que o Espírito Santo possa iluminar o grupo, a partir dos questionamentos sugeridos.
Todos os membros do grupo devem ter oportunidade de partilhar o que pensaram sobre cada tema. Cada membro deve dispor do mesmo tempo. O moderador deverá fazer esse controle do tempo.
As perguntas sugeridas em cada tema têm o objetivo de trazer à reflexão diversas experiências e realidades da nossa Igreja, na perspectiva da sinodalidade, com suas luzes e sombras; e levar os participantes a pensar em caminhos, perspectivas e propostas para o futuro de nossa Igreja.
Ao final do tempo estipulado para os trabalhos nos pequenos grupos, todos se reúnem em plenária para que o representante de cada grupo partilhe, brevemente, sobre a experiência do grupo.
Todos os pequenos grupos devem registrar e entregar para a equipe organizadora local, os registros escritos, que vão compor a síntese paroquial.
Posteriormente, podem também ser enviadas à equipe diocesana, por meios digitais, fotos, imagens, vídeos, que façam sobressair a experiência e contribuição dos participantes. Material que poderá ser encaminhado à equipe nacional.
8. Temas para refletir nas reuniões de consulta
Uma Igreja sinodal, ao anunciar o Evangelho, “caminha em conjunto”: como é que este “caminhar juntos” se realiza hoje em nossa Diocese? Que passos o Espírito Santo nos convida a dar para crescermos em nosso “caminhar juntos”? Essa é a questão fundamental a ser refletida nesse processo sinodal, pensando em nossa ação enquanto pastoral de conjunto, o que Deus espera da nossa Igreja e o que podemos fazer para realizar essa obra sonhada por Deus.
Clique aqui e conheça os dez eixos temáticos.
9. Como elaborar a síntese?
O objetivo da síntese é transmitir adequadamente os diversos pontos de vista, alegrias, desafios e frutos da experiência sinodal e do discernimento. Devem ser relatadas todas as opiniões expressas e experiências vividas, tanto positivas como negativas, mesmo que tenham partido de uma minoria. O conteúdo da síntese pode ser organizado de acordo com as seguintes questões:
Com relação à participação no processo de consulta:
O que se fez para envolver o maior número possível de participantes e para se chegar às periferias (existenciais e geográficas)? Em números aproximados, qual a porcentagem de pessoas da paróquia; pastoral/movimento ou demais grupos que participaram? Houve grupos de pessoas cuja participação foi especialmente digna de nota? Houve grupos específicos de pessoas que não participaram por alguma razão?
Na experiência da consulta:
Que atitudes ou sentimentos se pôde notar? Quais as tensões ou desentendimentos que surgiram no processo de escuta? Quais os temas ou questões que deram origem a diversos pontos de vista? Em geral, quais foram os frutos que o Espírito Santo produziu através desta experiência de escuta e partilha?
Feedback das reuniões:
Que histórias particulares ou experiências da vida real foram especialmente comoventes e por quê? Quais os pontos de vista foram mais comuns? Que pontos de vista foram menos mencionados, mas que são interessantes e dignos de nota?
Pistas de ação inspiradas do Espírito Santo:
Que novas perspectivas ou novos horizontes se abriram? Que luzes e sombras foram observadas na realidade atual? O que é que os participantes disseram sobre áreas onde a Igreja necessita de cura e conversão, na sua vida espiritual, cultural, atitudes, estruturas, práticas pastorais, relações e saída missionária? Quais os sonhos, desejos e aspirações para a Igreja, que os participantes apresentaram? Com base nas respostas dos participantes, que passos se sentiram chamados a dar para se tornar mais sinodais?
Dúvidas e solicitação de informações podem ser encaminhadas ao Centro Diocesano de Pastoral, no telefone: (11) 4469-2077 ou pelo WhatsApp: (11) 99981-1233.