No dia 30 de março, os agentes do Vicariato Episcopal para a Caridade Social da Diocese de Santo André foram chamados a silenciar o coração e reencontrar-se com Aquele que é a origem de toda caridade. No Santuário Nossa Senhora Aparecida, na Pauliceia, em São Bernardo do Campo, o retiro reuniu mais de cem agentes comprometidos com a missão de amar concretamente os mais pobres, os esquecidos, os frágeis.
O dia começou com acolhida e oração, seguido por momentos de partilha, reflexão, deserto e adoração ao Santíssimo Sacramento. Tudo foi cuidadosamente pensado para que cada agente pudesse se reconectar com o essencial da sua vocação: o amor a Deus e ao próximo como expressão inseparável da fé cristã, quem conduziu o retiro foi o vigário episcopal para a Caridade Social, Padre Ryan Holke.
A partir das leituras do dia, o caminho espiritual foi se desenhando. O livro de Josué recordou ao povo que Deus havia retirado de sobre eles o opróbrio do Egito, permitindo-lhes comer dos frutos da Terra Prometida. Esta imagem se transformou em convite à gratidão: olhar para a própria história e reconhecer o quanto já se caminhou, mesmo entre dores e lutas.
Na Segunda Carta aos Coríntios, ecoava o chamado à reconciliação: com Deus, consigo mesmo e com os outros. Padre Ryan destacou que essa reconciliação é o caminho da liberdade verdadeira — e não da falsa liberdade que se apresenta como um “fazer o que quiser”. Recordando São Francisco de Assis como exemplo de homem livre e plenamente reconciliado, reforçou que a missão da caridade só se realiza quando brota desse reencontro interior com o amor de Deus.
No Evangelho do Filho Pródigo, o rosto do Pai misericordioso revelou a essência do cristianismo. A homilia ressaltou que Deus respeita a liberdade de cada um, ainda que essa liberdade leve ao erro. E quando o filho retorna, encontra os braços do Pai abertos. A parábola, porém, não termina com o retorno do filho mais novo, mas com o coração do filho mais velho fechado diante da misericórdia. A pergunta final da homilia ecoou forte nos corações: quem somos nessa história? O filho que se perde? O que se acha justo demais? Ou aquele que, como o Pai, sabe amar e perdoar?
Antes da missa de encerramento, Dom Pedro Carlos Cipollini, bispo diocesano, dirigiu aos presentes uma profunda e serena reflexão. Com palavras simples, e convidou os agentes a resgatarem uma espiritualidade mais contemplativa, menos ativista, mais enraizada na presença de Deus. “Vivemos na correria da vida, e a nossa espiritualidade vai ficando para depois. Precisamos resgatar uma visão contemplativa da nossa existência, ver a realidade no modo de Deus”, afirmou. Ele alertou que uma vida espiritual não pode ser construída apenas nos momentos de dor ou desespero, mas precisa ser constante, sustentada por uma relação pessoal e íntima com Cristo.
Dom Pedro também falou sobre o silêncio interior como lugar onde Deus fala com mais clareza. “Deus fala melhor no silêncio. Mas é preciso fazer esse silêncio acontecer dentro de nós. Muitas vezes estamos tão cheios de ruído, até mesmo de tarefas pastorais, que não escutamos mais”, refletiu. Relembrou, ainda, o testemunho de uma mulher simples que acordava todos os dias às três da manhã para fazer sua oração pessoal antes de servir na Igreja. “É nessa vida interior que o Espírito nos abastece”, disse.
O retiro foi encerrado com a celebração da Santa Missa, e durante a homilia, o bispo diocesano relembrou que Jesus foi criticado por acolher os pecadores, mas, com sua misericórdia, revelou quem Deus realmente é: um Pai que se comove e se alegra com cada filho que volta. A parábola do filho pródigo foi apresentada como um espelho que desafia a todos — principalmente os que estão dentro da Igreja — a examinarem se têm o coração aberto à misericórdia ou se, como o filho mais velho, vivem aprisionados pela justiça sem amor.
A homilia concluiu-se com um apelo à coerência e ao testemunho. “Nossa sociedade também exclui, julga, rotula. Mas Deus não pensa assim. Ele ama, acolhe e perdoa. A missão da caridade exige que sejamos instrumentos desse amor, não juízes do erro alheio. A nossa dinâmica é a do perdão”, disse.
O retiro encerrou-se com o mesmo espírito com que começou: o desejo sincero de que, em meio ao serviço e às exigências da missão, nunca se perca a fonte. Porque servir aos outros é, antes de tudo, deixar-se habitar por Deus.
Veja o álbum completo das fotos, clicando aqui.








